sexta-feira, 16 de abril de 2010

PT e PSDB: a história já tratou de separá-los.



Tratar, achar, desejar que PSDB e PT sejam as mesmas coisas ou semelhantes, e pior, se unam sob o argumento de que suas diferenças não existem de fato é uma das hipóteses mais sem nexo que tenho escutado nos últimos anos no mundo da política. No meu próprio partido, inclusive, felizmente já há bastante tempo e de maneira isolada, havia gente simpática a esta ilusão. E explico porque é uma ilusão.
PT e PSDB não resguardam nenhuma semelhança ou afinidade nem mesmo programática como sugeriram alguns. Em minha opinião, programa se conhece em sua aplicabilidade e é neste ponto que as diferenças só aumentam. Parece-me que querer conciliar o inconciliável - falo do cenário nacional, não apenas da conjuntura estadual - também é uma maneira de não se resolver contradições (inclusive na esquerda) que, no plano geral, vêm sendo superadas com algumas questões regionais ainda pendentes. Nossa cultura de não fortalecer partidos e sim personalidades colaboram para não se politizar esse debate. Em 2010 ganha mais força o debate de programas e isso é um salto de qualidade delineador de posições e projetos.
No vácuo de poder da "nova república" das elites brasileiras e depois da aventura "Collor" precisando de um verniz "progressista” (não de esquerda), o neoliberalismo e o capital internacional com seus sócios menores e submissos no Brasil utilizaram-se de um partido "social democrata" desfigurado, com alguns intelectuais progressistas, sem base social ou de trabalhadores (as) para aplicar o modelo neoliberal. Privatizações, desmonte do Estado, demissão de servidores, "estado mínimo", endividamento interno e externo, repressão aos movimentos sociais (MST, Greve dos petroleiros etc.) e aliança com a direita mais conservadora do País à época; PFL, hoje DEM. Gostaria que alguém, em sã consciência, me dissesse o que é que isso tem a ver com o programa do Governo Lula/PT e aliados em seus oito anos de prática. Nada, nada, absolutamente nada.
Essa “direitização” da "social democracia" já vinha acontecendo no plano internacional, através de seus governos na Europa e em outras regiões do planeta que já se rendiam ao neoliberalismo ainda no final dos anos 80. A contradição é tamanha que Tasso Jereissati(mega-empresário), mesmo sem nunca ter lido qualquer linha sobre a Segunda Internacional e seu racha (a chamada Segunda e meia, de onde se originou a Social Democracia) pulou do barco do governo Sarney e estava em dúvida entre apoiar Collor (PRN/globo/direita brasileira) ou Mário Covas e seu choque de capitalismo, optou pela “social-democracia”. Que dúvida cruel.
De onde e desde quando Tasso Jereissati teve alguma relação com ideologia progressista? O PSDB é, sim, um rebaixamento da social-democracia. Por essas e outras que PT e PSDB são duas coisas totalmente diferentes, seja no Ceará ou no restante do Brasil.
Quando se tenta, em um malabarismo intelectual ou político impossível como a união entre água e fogo, fica nítido o objetivo de se evitar o inevitável: o afloramento das contradições entre projetos que logo mais virá à tona. Se quisermos continuar construindo um Brasil cada vez mais justo, igualitário e verdadeiramente democrático é necessário que o debate dessas contradições aconteça. O tempo da política, eleitoral ou não, deve ser o tempo da resolutividade das suas contradições.
Quem vê PSDB e PT com os mesmos olhos, como forças conciliáveis e próximas (seja de que ângulo for, dentro ou fora do PT, acadêmico, sociológico ou filosófico), ou ainda, quem resume tratar-se apenas de uma disputa política paulista, mantém a ilusão de tentar unir o que a própria história já tratou de separar. Neoliberalismo (PSDB/DEM e as elites) e o projeto Democrático e Popular (PT/PSB/PCdoB/PMDM e o povo) e demais aliados que estão ajudando a reconstruir o Brasil e o Ceará logicamente depois da avalanche neoliberal.

Antonio Carlos de Freitas Souza
Vice-presidente do PT-Ceará

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