O coro reacionário regido pelo FMI contra o crescimento do Brasil
O Brasil corre o risco de crescer acima da capacidade e acelerar o processo inflacionário, de acordo com a opinião divulgada quarta-feira (21) pelo chefe da Divisão de Estudos da Economia Mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI), Petya Koeva Broks. O remédio seria apertar o cinto: aumentar os juros e o superávit fiscal, além de eliminar os estímulos fiscais concedidos à indústria para combater a crise. Em poucas palavras, a economia nacional estaria precisando de uma dieta recessiva.
Por Umberto Martins
O FMI não é o primeiro a fazer tal diagnóstico. Há poucos dias, o economista tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros (que presidiu o BNDES e liderou a escandalosa privatização das teles no governo FHC), se confessou “assustado” com o crescimento e afirmou que a demanda está subindo mais do que a produção, pressionando os preços. Na verdade, há um coro afinado e reacionário fazendo alarme e mesmo terrorismo com o avanço do consumo e cobrando medidas para frear o desenvolvimento.
Juros provavelmente subirão
A primeira dessas medidas será o aumento das taxas básicas de juros (Selic). Pelo andar da carruagem, já são favas contadas a elevação da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, convocada para a próxima terça-feira, 27 de abril. O mercado aposta numa alta de 0,75% e, a menos que ocorra uma forte mobilização contra, a previsão tende a se transformar em realidade, com os juros básicos subindo para 9,75%.
Também avultam as pressões por um superávit primário maior, através de cortes nos investimentos e gastos públicos, além do fim das desonerações fiscais concedidas pelo governo Lula para combater a recessão exportada pelos EUA. Juros mais altos e redução das despesas do Estado inibem o crescimento da economia e seriam indispensáveis, neste momento, para exorcizar o fantasma da inflação, a julgar pelo FMI.
Redistribuição perversa da renda
A inflação é um mal que produz uma redistribuição perversa da renda nacional, favorecendo os especuladores e castigando principalmente os segmentos mais pobres e vulneráveis da classe trabalhadora, como disse o presidente Lula. Não é prudente menosprezar seus efeitos, mas parece estar ocorrendo um exagero deliberado na abordagem do tema pelas forças conservadoras, saudosas do desempenho medíocre da economia no governo neoliberal de FHC (o PIB subiu em média menos de 2% ao ano entre 1988 e 2002).
Ocorreu de fato uma aceleração da inflação nos primeiros meses deste ano, mas ainda é cedo para afirmar que isto constitui uma tendência irreversível de descontrole dos preços. Muitos especialistas atribuem o fenômeno a causas sazonais, incluindo as chuvas que afetaram negativamente a oferta de alimentos, que formam a categoria de produtos mais atingida pela alta dos preços. Em março os índices registram uma desaceleração da inflação.
Valorização do trabalho
O aumento do consumo em todo o país reflete a recuperação da renda, com destaque para o aumento do salário mínimo, e do emprego. Frear o crescimento significa aumentar o nível de desemprego e arrochar salários ou, no mínimo, impedir a recuperação da renda do trabalho. Trata-se de uma opção reacionária, que além de afrontar os interesses da classe trabalhadora contraria também os interesses maiores da nação.
A modesta valorização da força do trabalho fortaleceu o mercado interno e foi um fator fundamental para amortecer os impactos da crise. Convém lembrar que os setores da economia que dependem exclusiva ou predominantemente do mercado doméstico para sobreviver (comércio, serviços e certos ramos da indústria) não chegaram a entrar em recessão.
Crise do desenvolvimento
Vergado sob a crise da dívida externa, o Brasil vegetou durante mais de 20 anos na semi-estagnação, crescendo cerca de 2,2% ao ano em média entre 1980 e 2003 e permanecendo com a renda per capita estagnada. Perdeu terreno na corrida do desenvolvimento desigual, não só para os países asiáticos, e teve a taxa de desemprego multiplicada por três, além de uma forte depreciação da força de trabalho. Recorde-se que o PIB brasileiro cresceu em média 7,1% desde o pós-guerra até 1980.
A participação dos salários no PIB recuou de mais de 50% no início dos anos 80 do século passado para algo em torno de 36% em 2002. O período de baixo crescimento, que o economista Marcio Polchmann classificou de “crise do desenvolvimento”, criou um cenário de degradação social que foi o pano de fundo da eleição de Lula e derrota do Zé Serra em 2002. O presidente assumiu com o compromisso de mudar o jogo, o que em certa medida de fato está ocorrendo, apesar de certo viés neoliberal da política econômica.
A partir de 2004, já sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a nação parece ter redescoberto os valores e o caminho do desenvolvimento, embora ainda não esteja prosperando no mesmo ritmo do passado e esteja também muito distante do crescimento asiático e, em especial, da China. Neste ano, se o Banco Central não atrapalhar, é bem provável que o PIB avance mais de 6%.
Concepções reacionárias
Nosso país já pratica as mais altas taxas de reais de juros do mundo. É uma insensatez manter a política monetária conservadora do BC e elevar ainda mais a Selic. É preciso combater as concepções de que o Brasil está condenado à estagnação. A China cresce mais de 9% ao ano em média, a Índia, entre 7% a 8%. Foi o crescimento da produção que transformou a China na segunda potência econômica do planeta. A ideia de que não podemos avançar no mesmo ritmo dos países asiáticos e temos de nos contentar em ficar eternamente para trás contraria os interesses nacionais.
Se o consumo aumenta é preciso tomar medidas para estimular e ampliar a produção e, consequentemente, a oferta para preservar a estabilidade da moeda. É possível combater a inflação com crescimento da economia em vez de recessão. Quem tem interesse em sabotar o desenvolvimento nacional são as potências capitalistas (EUA e União Europeia, principalmente) que, em franca decadência, temem a concorrência dos chamados emergentes. O FMI sempre esteve a serviço desses interesses e é por isto que assume o papel de regente do coro reacionário contra o crescimento do Brasil.
O FMI não é o primeiro a fazer tal diagnóstico. Há poucos dias, o economista tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros (que presidiu o BNDES e liderou a escandalosa privatização das teles no governo FHC), se confessou “assustado” com o crescimento e afirmou que a demanda está subindo mais do que a produção, pressionando os preços. Na verdade, há um coro afinado e reacionário fazendo alarme e mesmo terrorismo com o avanço do consumo e cobrando medidas para frear o desenvolvimento.
Juros provavelmente subirão
A primeira dessas medidas será o aumento das taxas básicas de juros (Selic). Pelo andar da carruagem, já são favas contadas a elevação da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, convocada para a próxima terça-feira, 27 de abril. O mercado aposta numa alta de 0,75% e, a menos que ocorra uma forte mobilização contra, a previsão tende a se transformar em realidade, com os juros básicos subindo para 9,75%.
Também avultam as pressões por um superávit primário maior, através de cortes nos investimentos e gastos públicos, além do fim das desonerações fiscais concedidas pelo governo Lula para combater a recessão exportada pelos EUA. Juros mais altos e redução das despesas do Estado inibem o crescimento da economia e seriam indispensáveis, neste momento, para exorcizar o fantasma da inflação, a julgar pelo FMI.
Redistribuição perversa da renda
A inflação é um mal que produz uma redistribuição perversa da renda nacional, favorecendo os especuladores e castigando principalmente os segmentos mais pobres e vulneráveis da classe trabalhadora, como disse o presidente Lula. Não é prudente menosprezar seus efeitos, mas parece estar ocorrendo um exagero deliberado na abordagem do tema pelas forças conservadoras, saudosas do desempenho medíocre da economia no governo neoliberal de FHC (o PIB subiu em média menos de 2% ao ano entre 1988 e 2002).
Ocorreu de fato uma aceleração da inflação nos primeiros meses deste ano, mas ainda é cedo para afirmar que isto constitui uma tendência irreversível de descontrole dos preços. Muitos especialistas atribuem o fenômeno a causas sazonais, incluindo as chuvas que afetaram negativamente a oferta de alimentos, que formam a categoria de produtos mais atingida pela alta dos preços. Em março os índices registram uma desaceleração da inflação.
Valorização do trabalho
O aumento do consumo em todo o país reflete a recuperação da renda, com destaque para o aumento do salário mínimo, e do emprego. Frear o crescimento significa aumentar o nível de desemprego e arrochar salários ou, no mínimo, impedir a recuperação da renda do trabalho. Trata-se de uma opção reacionária, que além de afrontar os interesses da classe trabalhadora contraria também os interesses maiores da nação.
A modesta valorização da força do trabalho fortaleceu o mercado interno e foi um fator fundamental para amortecer os impactos da crise. Convém lembrar que os setores da economia que dependem exclusiva ou predominantemente do mercado doméstico para sobreviver (comércio, serviços e certos ramos da indústria) não chegaram a entrar em recessão.
Crise do desenvolvimento
Vergado sob a crise da dívida externa, o Brasil vegetou durante mais de 20 anos na semi-estagnação, crescendo cerca de 2,2% ao ano em média entre 1980 e 2003 e permanecendo com a renda per capita estagnada. Perdeu terreno na corrida do desenvolvimento desigual, não só para os países asiáticos, e teve a taxa de desemprego multiplicada por três, além de uma forte depreciação da força de trabalho. Recorde-se que o PIB brasileiro cresceu em média 7,1% desde o pós-guerra até 1980.
A participação dos salários no PIB recuou de mais de 50% no início dos anos 80 do século passado para algo em torno de 36% em 2002. O período de baixo crescimento, que o economista Marcio Polchmann classificou de “crise do desenvolvimento”, criou um cenário de degradação social que foi o pano de fundo da eleição de Lula e derrota do Zé Serra em 2002. O presidente assumiu com o compromisso de mudar o jogo, o que em certa medida de fato está ocorrendo, apesar de certo viés neoliberal da política econômica.
A partir de 2004, já sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a nação parece ter redescoberto os valores e o caminho do desenvolvimento, embora ainda não esteja prosperando no mesmo ritmo do passado e esteja também muito distante do crescimento asiático e, em especial, da China. Neste ano, se o Banco Central não atrapalhar, é bem provável que o PIB avance mais de 6%.
Concepções reacionárias
Nosso país já pratica as mais altas taxas de reais de juros do mundo. É uma insensatez manter a política monetária conservadora do BC e elevar ainda mais a Selic. É preciso combater as concepções de que o Brasil está condenado à estagnação. A China cresce mais de 9% ao ano em média, a Índia, entre 7% a 8%. Foi o crescimento da produção que transformou a China na segunda potência econômica do planeta. A ideia de que não podemos avançar no mesmo ritmo dos países asiáticos e temos de nos contentar em ficar eternamente para trás contraria os interesses nacionais.
Se o consumo aumenta é preciso tomar medidas para estimular e ampliar a produção e, consequentemente, a oferta para preservar a estabilidade da moeda. É possível combater a inflação com crescimento da economia em vez de recessão. Quem tem interesse em sabotar o desenvolvimento nacional são as potências capitalistas (EUA e União Europeia, principalmente) que, em franca decadência, temem a concorrência dos chamados emergentes. O FMI sempre esteve a serviço desses interesses e é por isto que assume o papel de regente do coro reacionário contra o crescimento do Brasil.
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