Eu vou começar saudando o nosso presidente. Como é do protocolo, mas também devido à importância dessa solenidade. Cumprimentar o Michel Temer, presidente da Câmara, os ministros que estão tomando posse. Tenho certeza que todos vão cumprir a missão que têm pela frente tão ou melhor do que nós fizemos.
Começo saudando a minha querida Erenice Guerra, ministra-chefe da Casa Civil, o ministro Paulo Sérgio, dos Transportes, o Gabas, querido Gabas da Previdência Social, Vagner Rossi, da Agricultura, o Marcio Zimmermann, de Minas e Energia, o José Artur Filardis, das Comunicações, a Isabela, do Meio Ambiente, o João Santana, da Integração, a nossa querida Márcia, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e queria saudar os ministros que ficam. Ao saudá-los, saúdo o Guido Mantega, o Fernando Haddad, o Jobim, o Padilha, o Miguel Jorge, Paulo Bernardo, nosso querido Sérgio Rezende, o Barretinho e meu querido Orlando Silva, além do ministro da Justiça, nosso querido Luiz Paulo. Saúdo todos os ministros. Creio ter saudado a todos, pelo menos aqui à primeira vista.
Queria dizer para vocês que fiz um imenso esforço para falar de improviso, mas se eu falar de improviso, presidente, vai acontecer uma coisa, ou duas: uma parte eu vou esquecer. Na outra parte eu vou chorar muito. Então, vou seguir um roteiro, pode ser que continue esquecendo e chorando, mas pelo menos tenho um roteiro em que vou me segurar.
É sem dúvida, presidente, um momento de grande emoção. Acho que para todos os meus colegas aqui que estão saindo e que deixam hoje o ministério do senhor. Mais do que colegas, hoje nós podemos dizer que somos companheiros de uma jornada, de uma missão, de um trabalho que fizemos em equipe. Vivemos uma emoção que alguns poetas disseram que era uma emoção especial, uma espécie de alegria melancólica ou uma alegria triste.
Alegria porque saímos de um governo que consideramos um dos governos que mais fez pelo povo deste país. E tristeza porque abandonamos hoje esse que foi um dos trabalhos, para muitos aqui, há sete anos e meio, e para outros mais de três, mais de quatro anos. De qualquer jeito, tristes porque estamos de partida. Mas se o nosso coração, presidente, sente essa estranha alegria triste, o senhor pode ter certeza que a alma da gente está cheia de otimismo, esperança e de fé. O senhor deu a cada um de nós o privilégio de participar de um dos momentos mais decisivos da história do nosso país. O momento em que o povo se reencontrou consigo mesmo, sob a liderança de um dos líderes mais populares, e talvez o mais brasileiro de todos os líderes desse país.
Ao seu lado, presidente, nós participamos de um processo que nos últimos sete anos e meio fez a mudança mais profunda, a mudança mais importante que as gerações brasileiras que convivem com o nosso tempo histórico experimentaram. Ao seu lado, presidente, a minha geração e a geração dos que me seguem, ou que me sucedem, melhor dizendo, conseguiram realizar seus sonhos. Sonhos que começam na luta de resistência à ditadura, que passam pela redemocratização, por todas as lutas e as dos movimentos sociais por direitos, dignidade, soberania, justiça e liberdade nesse país.
O governo do senhor é um momento muito importante porque é o ápice, um momento de vitória, talvez o mais longo momento de vitória que todos esses que lutaram experimentaram ao longo de suas vidas. Sim, presidente, com o senhor nós vencemos. E vamos vencendo a cada dia. Vencemos a miséria, a pobreza, ou parte da miséria e da grande pobreza desse país. Vencemos a submissão, vencemos a estagnação, vencemos o pessimismo, vencemos o conformismo e vencemos a indignidade. Talvez nós tenhamos vencido, inclusive, esse pesado resquício da escravidão que este país carrega, ou que carregou tão forte. E aí está o ministro da Integração Racial, e ele sabe do que eu estou falando, porque nesse processo nós continuamos vencendo mais de 400 anos de peso e de exclusão que pesa e que oprime o nosso país. Vencendo, sim, porque o Brasil aprendeu que a melhor forma de crescer é distribuir. Que a melhor forma de desenvolver é fazer com que todos participem dos frutos do desenvolvimento.
O senhor trouxe o desenvolvimento com inclusão, fez do social e do econômico duas faces da mesma moeda. Vencemos porque o seu governo mostrou que um país só pode ser soberano se o seu povo tiver condições de sonhar, condições de realizar seus sonhos, e condições de viver com dignidade a sua vida. E que esse povo possa expressar sem medo, sem peias, todas as suas opiniões e seus ideais. Nós convivemos com a diferença, presidente. Vencemos porque seu governo mostrou que o verdadeiro desenvolvimento é filho da democracia e irmão da liberdade, num país que viveu por muito tempo sob regime de exceção.
Vencemos, presidente, e nesse processo aprendemos muita coisa com o senhor, com esse encontro que o senhor, o mais autêntico dos líderes populares desse país, propiciou que nós tivéssemos com o povo brasileiro. E o povo brasileiro, ele sempre nos ensina a ser forte, mas no governo nós aprendemos também a ser persistentes. Com a alegria do nosso povo, nós aprendemos muito. Com o senhor, nós aprendemos que temos que ser otimistas. Nós aprendemos também com o nosso povo que temos que ter resistência, e com o senhor nós aprendemos que temos que ser corajosos.
Por tudo isso podemos dizer que, em apenas sete anos e meio, o nosso governo mudou o Brasil. Quando a gente olha e lembra do que se pensava em nosso país em 2002, nós nos damos conta do longo caminho percorrido. Nós temos orgulho de ter tirado quase 30 milhões [de pessoas] de uma situação de pobreza para as classes médias; de tirarmos mais de 20 milhões da pobreza; de termos empregado com carteira assinada quase 12 milhões de brasileiros. Nos lembramos dos projetos sociais do nosso governo, do Bolsa Família, do ProUni, do Luz para Todos, do Mais Alimentos, da agricultura familiar, do PAC Habitação, da urbanização de favelas, do pré-sal. Cada um desses programas traz em si uma certeza, a de que a vida de milhões de brasileiros está mudando.
Nós sabemos que aqueles que lamentam, os viúvos do Brasil que crescia pouco, da estagnação, fingem ignorar que essa mudança é uma mudança substancial. Têm medo. Eles não sabem o que oferecer a um povo que hoje é orgulhoso e tem certeza que sua vida mudou, não aceita mais migalhas, parcelas ou projetos inacabados. No nosso governo, o povo não é coadjuvante, ele é o centro das nossas atenções e é o protagonista de sua própria história.
Esses programas inovadores que nós criamos, como as Upas, o Brasil Sorridente, as Farmácias Populares, elas surgem dessa convicção de que um país só pode ser grande se for grande também o seu povo. O Fundeb, que multiplicou o fundo da educação básica por mais de dez, em termos de recursos, é um orgulho que nós temos também porque o próximo período vai ser o período das oportunidades.
Também, presidente, nós que amamos o nosso planeta, que temos consciência da importância do Brasil na questão da mudança do clima, estamos orgulhosos por termos reduzido a emissão de gases de efeito estufa no Brasil nos últimos períodos. Aliás, na Amazônia, o desmatamento foi reduzido como nunca depois que se começou a fazer a medição nos últimos 22 anos. A presença do Brasil em Copenhague nos orgulha a todos. Mas presidente, nós aprendemos uma coisa com o senhor que, por trás de cada obra, edifício, de cada projeto de infraestrutura, de cada uma das nossas ações, estavam pessoas, suas vidas privadas e seus dramas.
Recentemente, eu lembro do menino de lábio leporino que estava nas costas do seu tio, lá no Rio de Janeiro, e que está sendo agora operado no SUS. E que mostra à humanidade a importância dos centros de tratamento de fissura no palato que está sendo implantado no Brasil, como é o caso daquele implantado na Ubra, em Porto Alegre. A dona Eliane que procurou a gente na integração do São Francisco e contou para o senhor que vinha da roça e começou a vender quentinhas para os trabalhadores do trecho em Floresta, em Pernambuco. Ela disse para o senhor que agora tinha aberto um restaurante e, com muito orgulho, pagava R$ 5 mil de Imposto de Renda. Por trás de cada obra tem uma história desse tipo.
Como a mãe que confessou para o senhor, no Luz para todos, que ela nunca tinha visto seu filho dormir de noite. Nunca tinha podido ver seu filho dormindo, por isso apagava e acendia a luz para enxergar o filho que dormia e para provar que a vida dela estava mudando. A surpresa imensa daquele senhor alto, um pouco mais velho, negro de cabelos brancos que lá em Minas Gerais atendeu à porta que alguém batia, e a surpresa dele ao ver o presidente da República, um homem alto e careca, parecendo o Kojak, e eu. Ele olhou para o presidente que perguntava para ele se podia entrar, conversar e olhar se a obra estava de acordo com o que o presidente acha que tem que ser a dignidade de uma casa popular. A imensa surpresa dele ao olhar o presidente da República vendo seu banheiro e sua cozinha. Ao olhar se era necessário ter muro na casa e ao dizer sistematicamente, baixo para mim, no meu ouvido: “eu não fui eleito para fazer moquifo para o povo brasileiro. Eu fui eleito para dar dignidade”.
Presidente, eu assisti também ao Cristiano, o senhor lembra do Cristiano? Aquele menino que, vimos nos jornais, nadava na enxurrada. E que o senhor... A gente tinha ido lançar e dar a ordem de serviço para uma parte da recuperação de Manguinhos. Lá o senhor pediu para procurarem o menino. E o Cristiano apareceu magrinho, dizendo que gostava muito de piscina, mas nunca tinha nadado numa. E um ano depois, presidente, nós vimos o Cristiano quase um atleta, nadando no parque esportivo e na piscina do parque que nós construímos ali em Manguinhos.
O Cláudio que nós vimos recentemente, já há uma semana, na Vila Vicentino, na inauguração da casa que nós fizemos. Ele dizia que mais do que obra de cimento e tijolo, aquela obra tinha dado a ele e a sua comunidade dignidade. Sem sombra de dúvida, o presidente nos ensinou a olhar para os mais marginalizados.
Se o presidente convive com líderes mundiais, discute problemas complexos da crise econômica, a questão relativa à crise financeira do mundo, os problemas dessa crise mundial; se discute toda a questão de infraestrutura do nosso país, o problema do desenvolvimento produtivo, ele nunca abandonou esses desvalidos, os catadores de papel. Os hansenianos, os portadores de deficiências... A importância que o senhor deu aos cegos e aos seus cães-guias, não só em termos de recebê-los aqui no Palácio - aliás, ali em frente ao Palácio - mas também todas as ações de afirmação, cidadania e dignidade que o governo sempre reconheceu a eles. Por isso, presidente, eu repito: o povo brasileiro nos ensinou a acreditar no futuro. Mas, com o senhor, nós, juntos, aprendemos a construí-lo.
Por isso, presidente, deixamos o governo - e tenho certeza que falo em nome de cada um dos ministros que estão aqui hoje que saem do governo - renovando nossos compromissos com as bandeiras que abraçamos. E com o juramento que fizemos de cada vez mais lutar e melhorar a vida do nosso povo. Essa tarefa, presidente, ficou mais fácil depois dos caminhos abertos pelo governo, traçados sob a sua liderança.
Nós nos despedimos, mas não somos aqueles que estão dizendo adeus, somos aqueles que estamos dizendo até breve. Nós não vamos nos dispersar. Nós, cada um dos ministros aqui presentes, temos um legado a defender, onde quer que estejamos, exercendo a militância que tivermos que exercer. Sob a sua inspiração, presidente, quem fez tanto está pronto para fazer muito mais e melhor. Estamos simplesmente dizendo até breve. Hoje sabemos que o Brasil é um país pronto para dar um novo passo de prosperidade, de desenvolvimento econômico e social, trilhando rotas já abertas, explorando novas riquezas, como o pré-sal. Sempre buscando gerar milhões de novos empregos.
No seu governo criamos uma base sólida. Com ela, nós podemos erradicar a miséria e nos tornar a 5ª economia do mundo dentro de alguns anos. É mais do que a minha geração podia sonhar. Não que a minha geração não sonhasse alto, mas é mais do que ela podia sonhar olhando para as possibilidades reais sob as quais nós vivemos.
Mais uma vez eu repito, presidente, o senhor nos deu, pela primeira vez, aquele gosto de vitória, não da vitória fácil, mas da vitória que se tem só depois de muito suor, muito esforço e muita dificuldade. É a crença também no diálogo que nós aprendemos. O senhor sempre dialoga. É a crença no acordo. É a crença na democracia.
Como o senhor sempre disse, e sempre eu gostei muito dessa síntese que o senhor faz, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes. É por tudo isso que nós podemos dizer em alto e bom som: nós nos orgulhamos de ter participado do seu governo. Eu falo por todos os ministros, os que saem e os que estão entrando e os que estão ficando.
Não importa agora perguntar porque alguns não têm orgulho dos governos de que participaram. Eles devem ter seus motivos. Mas nós podemos sempre saber que temos patrimônio, nós fizemos parte da era Lula. Vamos carregar essa história e contá-la para os nossos netos. Vamos carregar essa história e nos orgulhar disso em nossa biografia.
Querido presidente, o senhor também é uma pessoa alegre, afetiva, com senso de humor, que mostra que acima de tudo a gente pode enfrentar os revezes, as dificuldades. Na hora que a coisa endurece, como dizem os jovens, o bicho pega. Mas, nós temos que ter coragem e alegria de enfrentar a vida, a política e achar sempre as soluções. Eu tive o privilégio de conviver com o senhor, de privar dos momentos duros e dos momentos de vitórias e conquistas. Ser honrada por sua confiança. E quero dizer que eu como os outros ministros saímos maiores e melhores do que entramos.
Nós participamos da mudança do Brasil, mas nós também mudamos e é por isso que afirmo: cada um de nós sai uma pessoa melhor do que entrou. Isso, presidente, em qualquer experiência de vida é inestimável. É por isso que eu disse que a gente tem uma tristeza alegre, ou uma alegria triste, porque saímos felizes e revigorados. Pessoas melhores são necessariamente pessoas felizes. O Brasil para nós deixou de ser aquele país em que o futuro nunca chegava. É o futuro que chegou e nós chegamos junto. Isso não tem preço, presidente. É isso que sempre vai fazer de nós orgulhosos dessa experiência. Vai fazer de cada um de nós aqueles que sabem, também, que agora trata-se de ampliar esse futuro que chegou no presente.
Para finalizar, presidente, eu gostaria de agradecer também a todos aqueles que nos ajudaram a realizar essa travessia e que eu vejo aqui presentes. A base aliada, os movimentos sociais, os empresários, os trabalhadores que acreditaram que era possível construir o novo Brasil. Em meu nome e em nome de todos os ministros que participaram e participam desse processo, só tenho a dizer: obrigado, presidente Lula, pela oportunidade de nos fazer parceiros do maior projeto de transformação econômica e social que esse país viu nas últimas décadas. Obrigado também por permitir esse encontro com o povo brasileiro, que fez o Brasil mais próximo do seu povo. Por provar aquilo que sempre acreditamos, que o nosso povo é um povo extraordinário que só precisava de apoio, oportunidade e atenção para mostrar do que é capaz, para mostrar a sua capacidade, a sua inventividade, a sua criatividade, o seu empreendedorismo. Este é o principal sentimento que nós levamos conosco, o de ter lutado ao lado de um grande líder, em favor de um grande povo. Obrigado, presidente.
Eu queria dizer para o senhor que nós hoje estamos num dia muito especial para cada um de nós. Talvez, ao longo das nossas vidas, um momento decisivo. E tenho certeza que hoje nós aqui presentes, nossas famílias, nossos filhos, os netos e os amigos estão orgulhosos do que fizemos. Por isso, eu cumprimento aqueles ministros que entram. Desejo a eles toda a sorte do mundo, porque é preciso ter sorte, o senhor sempre diz. Ninguém vai querer ministro pé-frio também. Mas eu tenho certeza que espera vocês também, trabalho em dobro, como disse o presidente no dia do lançamento do PAC 2.
Eu agradeço a todos vocês, agradeço aos nossos companheiros ministros com quem nós convivemos. Em nome de cada um agradeço os representantes das equipes dos ministros, os representantes das empresas estatais, como a Petrobras. Agradeço a todos por esse trabalho de equipe que é a marca do governo do presidente Lula.
Obrigada.
Dilma Rousseff
31/03/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário