A pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, disse nesta sexta-feira (7), ao chegar ao Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca (PE), que o Brasil dá um passo fundamental para o aumento de sua capacidade produtiva ao lançar o primeiro navio petroleiro de grande porte, depois de décadas de estagnação da indústria naval.
Olhando o petroleiro João Cândido, Dilma ressaltou o esforço dos trabalhadores. “Bonito é isso ali, ó. Cheio de trabalho”, comentou acenando para os trabalhadores que estavam a bordo do navio pouco antes do lançamento.
“Era isso que diziam que no Brasil não se podia fazer. O Brasil dá um passo à frente hoje. Não podemos produzir apenas commodities [soja, minério de ferro], nós também produzimos navios como esse, desse tamanho”, afirmou.
O lançamento do navio petroleiro João Cândido representa o reinício de uma atividade industrial abandonada no país há décadas. Ele é o primeiro das 49 embarcações de grande porte que integram o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) a ser entregue.
Segundo o EAS, que abriu suas portas há cerca de três anos, o petroleiro tem capacidade para transportar até 1 milhão de barris de petróleo, o equivalente à quase a metade da produção diária brasileira. A empresa emprega cerca de 4 mil funcionários, a maior parte treinada em Pernambuco, e cerca de 1,3 mil trabalharam diretamente na construção do petroleiro.
Lula: o que fizemos no Brasil não pode mudar
Estrela do evento em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no Complexo Portuário de Suape e pediu que os empresários brasileiros invistam no País. "Não ter empresa que produza trilhos para a malha viária é uma vergonha", afirmou. No fim, ainda fez um apelo: "o que fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar, o Brasil regride. Nós sabemos que fazer é dificil. Derrubar é fácil", diz.
Lula também desafiou qualquer político a mostrar, nos últimos 30 anos, um presidente que tenha colocado mais dinheiro em cada estado brasileiro do que ele. O presidente, que estava bem humorado, chegou a brincar com uma bandeira do Sport, pentacampeão do Campeonato Pernambucano, e também disse concordar com o ministro da saúde no quesito de que para cuidar da pressão, tem que fazer sexo. "Não fique se lamentando companheiro, vá a luta", brincou.
Durante a inauguração do navio, o presidente ficou em cima da plataforma ao lado de Dilma e do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos e acenou para os operários. Ele prometeu retornar no final do ano a Ipojuca se o Atlântico Sul inaugurar outro navio.
O navio, que tem o nome de João Cândido em homenagem ao Líder da Revolta da Chibata, é um dos 22 encomendados pela Transpetro ao Estaleiro Atlântico Sul.
Emprego para moradores locais
A economia local da Ipojuca se beneficiou muito da retomada da indústria naval no país, graças ao impulso dado pelo governo Lula. Daiana Marques da Silva, 22 anos, é um dos muitos exemplos que podem ser colhidos no Estaleiro Atlântico Sul (EAS).
Antes do estaleiro, “eu só estudava e fazia alguns bicos”, contou a ex-soldadora e hoje auxiliar de produção, que mora em Ipojuca. Segundo ela, a cidade mudou depois da instalação do EAS. As pessoas passaram a ter mais perspectivas, avalia. “Só não trabalha aqui quem não procurar. Tem muita oportunidade”, salientou.
Daiana conta que no começo os familiares tinham dúvidas sobre o trabalho dela, mas depois com o boom que o estaleiro provocou na cidade, tudo passou ser natural. “Eles ficavam curiosos, queriam saber se era muito quente, se era perigoso trabalhar na solda”, lembrou. Ela entrou na “turma zero” do EAS. “Fui uma das primeiras a ser contratada. Fiquei dois anos como soldadora e agora estou como auxiliar de produção”, revelou.
Ela também levou o marido para trabalhar no estaleiro. “Antes, ele trabalhava com turismo, com recreação de turistas. O problema é que turismo não dá dinheiro o ano inteiro. É só por uns meses. Então, ele preferiu trocar”, explicou.
Segundo dados do EAS, mais de 90% dos trabalhadores na construção do EAS e dos navios vêm dos cinco municípios no entorno do Complexo Portuário de Suape. Antes de entrar no estaleiro, a maioria destes trabalhadores ganhava a vida como cortador-de-cana, pescador, nas atividades turísticas ou doméstica.
Inicialmente, eles passaram por um reforço de ensino básico, com duração de três meses, em um antigo matadouro reformado e transformado em escola, hoje denominada “Nascedouro de Talentos”. Na segunda fase, a força de trabalho foi capacitada pelo Senai, recebendo base teórica e treinamento prático.
Na terceira fase, de cerca de três meses, o Centro de Treinamento construído pelo EAS em Suape ofereceu uma qualificação final direcionada para as atividades a serem exercidas por cada um no estaleiro (soldador, caldeireiro, mecânico, montador, pintor).
Resgate histórico e retorno ao Brasil
O lançamento do petroleiro João Cândido resgata a história de bravos brasileiros que lutaram contra a discriminação racial e a violência na Marinha de Guerra no início do século passado durante a Revolta da Chibata. Também revela a luta diária de outros brasileiros por uma vida melhor.
O ressurgimento da indústria naval no país tem ajudado esses brasileiros a viver mais perto de suas famílias, como no caso de dekasseguis (brasileiros descendentes de japoneses ) que saíram e agora retornam ao Brasil por conta desse novo ciclo econômico.
Além de recrutar e capacitar mão-de-obra em Ipojuca, a administração do estaleiro decidiu importar mão-de-obra brasileira que trabalhava nos estaleiros japoneses.
A história da soldadora Márcia Mitiko, 29 anos, ilustra a volta dos dekasseguis que são trabalhadores altamente qualificados na indústria. O EAS decidiu recrutar 200 deles no final do ano passado. Até agora, cerca de 90 já fizeram o caminho de volta e felizes da vida.
“Eu me casei e mudei para o Japão com meu marido com o objetivo de ficar três anos lá. Acabamos ficando nove”, conta Márcia, que levou sua filha Bruna de quatro meses junto. “Eu fiquei sabendo que eles estavam recrutando pessoas para trabalhar em estaleiros no Brasil. Foram lá, me entrevistaram e resolvi voltar.”
Junto com ela veio o marido, que também trabalha no estaleiro. “No nosso estaleiro lá em Hiroshima, ainda não havia tido problema por causa da crise [financeira mundial], mas eu conhecia vários brasileiros que tinham perdido o emprego por conta disso”, contou. Segundo ela, a filha já está adaptada ao Brasil e só fala português agora.
Enquanto ela contava sua história, a amiga e também soldadora Manuela Barão disse que também voltou do Japão por causa da oferta de emprego do EAS. “Eu procurei na internet informações sobre estaleiros no Brasil, porque eu queria voltar. Já estava há seis anos lá. Daí mandei um currículo para cá, mas eles não me responderam. Depois de uns meses soube que haveria uma seleção e fui participar e decidi voltar”, explicou Manuela, que também trouxe o marido brasileiro que conheceu no Japão para Pernambuco e para o EAS.
Márcia está orgulhosa de ter participado desse navio cheio de história. “Eu estou feliz, né. É o primeiro navio a ser construído no Brasil desde a retomada [da indústria naval]. É o primeiro estaleiro a construir um petroleiro tão grande nessa época. Quando eu ficar velhinha, vou contar para os meus netos que participei da construção desse navio”, disse.
Olhando o petroleiro João Cândido, Dilma ressaltou o esforço dos trabalhadores. “Bonito é isso ali, ó. Cheio de trabalho”, comentou acenando para os trabalhadores que estavam a bordo do navio pouco antes do lançamento.
“Era isso que diziam que no Brasil não se podia fazer. O Brasil dá um passo à frente hoje. Não podemos produzir apenas commodities [soja, minério de ferro], nós também produzimos navios como esse, desse tamanho”, afirmou.
O lançamento do navio petroleiro João Cândido representa o reinício de uma atividade industrial abandonada no país há décadas. Ele é o primeiro das 49 embarcações de grande porte que integram o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) a ser entregue.
Segundo o EAS, que abriu suas portas há cerca de três anos, o petroleiro tem capacidade para transportar até 1 milhão de barris de petróleo, o equivalente à quase a metade da produção diária brasileira. A empresa emprega cerca de 4 mil funcionários, a maior parte treinada em Pernambuco, e cerca de 1,3 mil trabalharam diretamente na construção do petroleiro.
Lula: o que fizemos no Brasil não pode mudar
Estrela do evento em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no Complexo Portuário de Suape e pediu que os empresários brasileiros invistam no País. "Não ter empresa que produza trilhos para a malha viária é uma vergonha", afirmou. No fim, ainda fez um apelo: "o que fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar, o Brasil regride. Nós sabemos que fazer é dificil. Derrubar é fácil", diz.
Lula também desafiou qualquer político a mostrar, nos últimos 30 anos, um presidente que tenha colocado mais dinheiro em cada estado brasileiro do que ele. O presidente, que estava bem humorado, chegou a brincar com uma bandeira do Sport, pentacampeão do Campeonato Pernambucano, e também disse concordar com o ministro da saúde no quesito de que para cuidar da pressão, tem que fazer sexo. "Não fique se lamentando companheiro, vá a luta", brincou.
Durante a inauguração do navio, o presidente ficou em cima da plataforma ao lado de Dilma e do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos e acenou para os operários. Ele prometeu retornar no final do ano a Ipojuca se o Atlântico Sul inaugurar outro navio.
O navio, que tem o nome de João Cândido em homenagem ao Líder da Revolta da Chibata, é um dos 22 encomendados pela Transpetro ao Estaleiro Atlântico Sul.
Emprego para moradores locais
A economia local da Ipojuca se beneficiou muito da retomada da indústria naval no país, graças ao impulso dado pelo governo Lula. Daiana Marques da Silva, 22 anos, é um dos muitos exemplos que podem ser colhidos no Estaleiro Atlântico Sul (EAS).
Antes do estaleiro, “eu só estudava e fazia alguns bicos”, contou a ex-soldadora e hoje auxiliar de produção, que mora em Ipojuca. Segundo ela, a cidade mudou depois da instalação do EAS. As pessoas passaram a ter mais perspectivas, avalia. “Só não trabalha aqui quem não procurar. Tem muita oportunidade”, salientou.
Daiana conta que no começo os familiares tinham dúvidas sobre o trabalho dela, mas depois com o boom que o estaleiro provocou na cidade, tudo passou ser natural. “Eles ficavam curiosos, queriam saber se era muito quente, se era perigoso trabalhar na solda”, lembrou. Ela entrou na “turma zero” do EAS. “Fui uma das primeiras a ser contratada. Fiquei dois anos como soldadora e agora estou como auxiliar de produção”, revelou.
Ela também levou o marido para trabalhar no estaleiro. “Antes, ele trabalhava com turismo, com recreação de turistas. O problema é que turismo não dá dinheiro o ano inteiro. É só por uns meses. Então, ele preferiu trocar”, explicou.
Segundo dados do EAS, mais de 90% dos trabalhadores na construção do EAS e dos navios vêm dos cinco municípios no entorno do Complexo Portuário de Suape. Antes de entrar no estaleiro, a maioria destes trabalhadores ganhava a vida como cortador-de-cana, pescador, nas atividades turísticas ou doméstica.
Inicialmente, eles passaram por um reforço de ensino básico, com duração de três meses, em um antigo matadouro reformado e transformado em escola, hoje denominada “Nascedouro de Talentos”. Na segunda fase, a força de trabalho foi capacitada pelo Senai, recebendo base teórica e treinamento prático.
Na terceira fase, de cerca de três meses, o Centro de Treinamento construído pelo EAS em Suape ofereceu uma qualificação final direcionada para as atividades a serem exercidas por cada um no estaleiro (soldador, caldeireiro, mecânico, montador, pintor).
Resgate histórico e retorno ao Brasil
O lançamento do petroleiro João Cândido resgata a história de bravos brasileiros que lutaram contra a discriminação racial e a violência na Marinha de Guerra no início do século passado durante a Revolta da Chibata. Também revela a luta diária de outros brasileiros por uma vida melhor.
O ressurgimento da indústria naval no país tem ajudado esses brasileiros a viver mais perto de suas famílias, como no caso de dekasseguis (brasileiros descendentes de japoneses ) que saíram e agora retornam ao Brasil por conta desse novo ciclo econômico.
Além de recrutar e capacitar mão-de-obra em Ipojuca, a administração do estaleiro decidiu importar mão-de-obra brasileira que trabalhava nos estaleiros japoneses.
A história da soldadora Márcia Mitiko, 29 anos, ilustra a volta dos dekasseguis que são trabalhadores altamente qualificados na indústria. O EAS decidiu recrutar 200 deles no final do ano passado. Até agora, cerca de 90 já fizeram o caminho de volta e felizes da vida.
“Eu me casei e mudei para o Japão com meu marido com o objetivo de ficar três anos lá. Acabamos ficando nove”, conta Márcia, que levou sua filha Bruna de quatro meses junto. “Eu fiquei sabendo que eles estavam recrutando pessoas para trabalhar em estaleiros no Brasil. Foram lá, me entrevistaram e resolvi voltar.”
Junto com ela veio o marido, que também trabalha no estaleiro. “No nosso estaleiro lá em Hiroshima, ainda não havia tido problema por causa da crise [financeira mundial], mas eu conhecia vários brasileiros que tinham perdido o emprego por conta disso”, contou. Segundo ela, a filha já está adaptada ao Brasil e só fala português agora.
Enquanto ela contava sua história, a amiga e também soldadora Manuela Barão disse que também voltou do Japão por causa da oferta de emprego do EAS. “Eu procurei na internet informações sobre estaleiros no Brasil, porque eu queria voltar. Já estava há seis anos lá. Daí mandei um currículo para cá, mas eles não me responderam. Depois de uns meses soube que haveria uma seleção e fui participar e decidi voltar”, explicou Manuela, que também trouxe o marido brasileiro que conheceu no Japão para Pernambuco e para o EAS.
Márcia está orgulhosa de ter participado desse navio cheio de história. “Eu estou feliz, né. É o primeiro navio a ser construído no Brasil desde a retomada [da indústria naval]. É o primeiro estaleiro a construir um petroleiro tão grande nessa época. Quando eu ficar velhinha, vou contar para os meus netos que participei da construção desse navio”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário