sábado, 3 de abril de 2010

Discurso da ministra Dilma Rousseff ao deixar o governo para disputar as eleições de outubro próximo.

Eu vou começar saudando o nosso presidente. Como é do protocolo, mas também devido à importância dessa solenidade. Cumprimentar o Michel Temer, presidente da Câmara, os ministros que estão tomando posse. Tenho certeza que todos vão cumprir a missão que têm pela frente tão ou melhor do que nós fizemos.

Começo saudando a minha querida Erenice Guerra, ministra-chefe da Casa Civil, o ministro Paulo Sérgio, dos Transportes, o Gabas, querido Gabas da Previdência Social, Vagner Rossi, da Agricultura, o Marcio Zimmermann, de Minas e Energia, o José Artur Filardis, das Comunicações, a Isabela, do Meio Ambiente, o João Santana, da Integração, a nossa querida Márcia, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e queria saudar os ministros que ficam. Ao saudá-los, saúdo o Guido Mantega, o Fernando Haddad, o Jobim, o Padilha, o Miguel Jorge, Paulo Bernardo, nosso querido Sérgio Rezende, o Barretinho e meu querido Orlando Silva, além do ministro da Justiça, nosso querido Luiz Paulo. Saúdo todos os ministros. Creio ter saudado a todos, pelo menos aqui à primeira vista.

Queria dizer para vocês que fiz um imenso esforço para falar de improviso, mas se eu falar de improviso, presidente, vai acontecer uma coisa, ou duas: uma parte eu vou esquecer. Na outra parte eu vou chorar muito. Então, vou seguir um roteiro, pode ser que continue esquecendo e chorando, mas pelo menos tenho um roteiro em que vou me segurar.

É sem dúvida, presidente, um momento de grande emoção. Acho que para todos os meus colegas aqui que estão saindo e que deixam hoje o ministério do senhor. Mais do que colegas, hoje nós podemos dizer que somos companheiros de uma jornada, de uma missão, de um trabalho que fizemos em equipe. Vivemos uma emoção que alguns poetas disseram que era uma emoção especial, uma espécie de alegria melancólica ou uma alegria triste.

Alegria porque saímos de um governo que consideramos um dos governos que mais fez pelo povo deste país. E tristeza porque abandonamos hoje esse que foi um dos trabalhos, para muitos aqui, há sete anos e meio, e para outros mais de três, mais de quatro anos. De qualquer jeito, tristes porque estamos de partida. Mas se o nosso coração, presidente, sente essa estranha alegria triste, o senhor pode ter certeza que a alma da gente está cheia de otimismo, esperança e de fé. O senhor deu a cada um de nós o privilégio de participar de um dos momentos mais decisivos da história do nosso país. O momento em que o povo se reencontrou consigo mesmo, sob a liderança de um dos líderes mais populares, e talvez o mais brasileiro de todos os líderes desse país.

Ao seu lado, presidente, nós participamos de um processo que nos últimos sete anos e meio fez a mudança mais profunda, a mudança mais importante que as gerações brasileiras que convivem com o nosso tempo histórico experimentaram. Ao seu lado, presidente, a minha geração e a geração dos que me seguem, ou que me sucedem, melhor dizendo, conseguiram realizar seus sonhos. Sonhos que começam na luta de resistência à ditadura, que passam pela redemocratização, por todas as lutas e as dos movimentos sociais por direitos, dignidade, soberania, justiça e liberdade nesse país.

O governo do senhor é um momento muito importante porque é o ápice, um momento de vitória, talvez o mais longo momento de vitória que todos esses que lutaram experimentaram ao longo de suas vidas. Sim, presidente, com o senhor nós vencemos. E vamos vencendo a cada dia. Vencemos a miséria, a pobreza, ou parte da miséria e da grande pobreza desse país. Vencemos a submissão, vencemos a estagnação, vencemos o pessimismo, vencemos o conformismo e vencemos a indignidade. Talvez nós tenhamos vencido, inclusive, esse pesado resquício da escravidão que este país carrega, ou que carregou tão forte. E aí está o ministro da Integração Racial, e ele sabe do que eu estou falando, porque nesse processo nós continuamos vencendo mais de 400 anos de peso e de exclusão que pesa e que oprime o nosso país. Vencendo, sim, porque o Brasil aprendeu que a melhor forma de crescer é distribuir. Que a melhor forma de desenvolver é fazer com que todos participem dos frutos do desenvolvimento.

O senhor trouxe o desenvolvimento com inclusão, fez do social e do econômico duas faces da mesma moeda. Vencemos porque o seu governo mostrou que um país só pode ser soberano se o seu povo tiver condições de sonhar, condições de realizar seus sonhos, e condições de viver com dignidade a sua vida. E que esse povo possa expressar sem medo, sem peias, todas as suas opiniões e seus ideais. Nós convivemos com a diferença, presidente. Vencemos porque seu governo mostrou que o verdadeiro desenvolvimento é filho da democracia e irmão da liberdade, num país que viveu por muito tempo sob regime de exceção.

Vencemos, presidente, e nesse processo aprendemos muita coisa com o senhor, com esse encontro que o senhor, o mais autêntico dos líderes populares desse país, propiciou que nós tivéssemos com o povo brasileiro. E o povo brasileiro, ele sempre nos ensina a ser forte, mas no governo nós aprendemos também a ser persistentes. Com a alegria do nosso povo, nós aprendemos muito. Com o senhor, nós aprendemos que temos que ser otimistas. Nós aprendemos também com o nosso povo que temos que ter resistência, e com o senhor nós aprendemos que temos que ser corajosos.

Por tudo isso podemos dizer que, em apenas sete anos e meio, o nosso governo mudou o Brasil. Quando a gente olha e lembra do que se pensava em nosso país em 2002, nós nos damos conta do longo caminho percorrido. Nós temos orgulho de ter tirado quase 30 milhões [de pessoas] de uma situação de pobreza para as classes médias; de tirarmos mais de 20 milhões da pobreza; de termos empregado com carteira assinada quase 12 milhões de brasileiros. Nos lembramos dos projetos sociais do nosso governo, do Bolsa Família, do ProUni, do Luz para Todos, do Mais Alimentos, da agricultura familiar, do PAC Habitação, da urbanização de favelas, do pré-sal. Cada um desses programas traz em si uma certeza, a de que a vida de milhões de brasileiros está mudando.

Nós sabemos que aqueles que lamentam, os viúvos do Brasil que crescia pouco, da estagnação, fingem ignorar que essa mudança é uma mudança substancial. Têm medo. Eles não sabem o que oferecer a um povo que hoje é orgulhoso e tem certeza que sua vida mudou, não aceita mais migalhas, parcelas ou projetos inacabados. No nosso governo, o povo não é coadjuvante, ele é o centro das nossas atenções e é o protagonista de sua própria história.

Esses programas inovadores que nós criamos, como as Upas, o Brasil Sorridente, as Farmácias Populares, elas surgem dessa convicção de que um país só pode ser grande se for grande também o seu povo. O Fundeb, que multiplicou o fundo da educação básica por mais de dez, em termos de recursos, é um orgulho que nós temos também porque o próximo período vai ser o período das oportunidades.

Também, presidente, nós que amamos o nosso planeta, que temos consciência da importância do Brasil na questão da mudança do clima, estamos orgulhosos por termos reduzido a emissão de gases de efeito estufa no Brasil nos últimos períodos. Aliás, na Amazônia, o desmatamento foi reduzido como nunca depois que se começou a fazer a medição nos últimos 22 anos. A presença do Brasil em Copenhague nos orgulha a todos. Mas presidente, nós aprendemos uma coisa com o senhor que, por trás de cada obra, edifício, de cada projeto de infraestrutura, de cada uma das nossas ações, estavam pessoas, suas vidas privadas e seus dramas.

Recentemente, eu lembro do menino de lábio leporino que estava nas costas do seu tio, lá no Rio de Janeiro, e que está sendo agora operado no SUS. E que mostra à humanidade a importância dos centros de tratamento de fissura no palato que está sendo implantado no Brasil, como é o caso daquele implantado na Ubra, em Porto Alegre. A dona Eliane que procurou a gente na integração do São Francisco e contou para o senhor que vinha da roça e começou a vender quentinhas para os trabalhadores do trecho em Floresta, em Pernambuco. Ela disse para o senhor que agora tinha aberto um restaurante e, com muito orgulho, pagava R$ 5 mil de Imposto de Renda. Por trás de cada obra tem uma história desse tipo.

Como a mãe que confessou para o senhor, no Luz para todos, que ela nunca tinha visto seu filho dormir de noite. Nunca tinha podido ver seu filho dormindo, por isso apagava e acendia a luz para enxergar o filho que dormia e para provar que a vida dela estava mudando. A surpresa imensa daquele senhor alto, um pouco mais velho, negro de cabelos brancos que lá em Minas Gerais atendeu à porta que alguém batia, e a surpresa dele ao ver o presidente da República, um homem alto e careca, parecendo o Kojak, e eu. Ele olhou para o presidente que perguntava para ele se podia entrar, conversar e olhar se a obra estava de acordo com o que o presidente acha que tem que ser a dignidade de uma casa popular. A imensa surpresa dele ao olhar o presidente da República vendo seu banheiro e sua cozinha. Ao olhar se era necessário ter muro na casa e ao dizer sistematicamente, baixo para mim, no meu ouvido: “eu não fui eleito para fazer moquifo para o povo brasileiro. Eu fui eleito para dar dignidade”.

Presidente, eu assisti também ao Cristiano, o senhor lembra do Cristiano? Aquele menino que, vimos nos jornais, nadava na enxurrada. E que o senhor... A gente tinha ido lançar e dar a ordem de serviço para uma parte da recuperação de Manguinhos. Lá o senhor pediu para procurarem o menino. E o Cristiano apareceu magrinho, dizendo que gostava muito de piscina, mas nunca tinha nadado numa. E um ano depois, presidente, nós vimos o Cristiano quase um atleta, nadando no parque esportivo e na piscina do parque que nós construímos ali em Manguinhos.

O Cláudio que nós vimos recentemente, já há uma semana, na Vila Vicentino, na inauguração da casa que nós fizemos. Ele dizia que mais do que obra de cimento e tijolo, aquela obra tinha dado a ele e a sua comunidade dignidade. Sem sombra de dúvida, o presidente nos ensinou a olhar para os mais marginalizados.

Se o presidente convive com líderes mundiais, discute problemas complexos da crise econômica, a questão relativa à crise financeira do mundo, os problemas dessa crise mundial; se discute toda a questão de infraestrutura do nosso país, o problema do desenvolvimento produtivo, ele nunca abandonou esses desvalidos, os catadores de papel. Os hansenianos, os portadores de deficiências... A importância que o senhor deu aos cegos e aos seus cães-guias, não só em termos de recebê-los aqui no Palácio - aliás, ali em frente ao Palácio - mas também todas as ações de afirmação, cidadania e dignidade que o governo sempre reconheceu a eles. Por isso, presidente, eu repito: o povo brasileiro nos ensinou a acreditar no futuro. Mas, com o senhor, nós, juntos, aprendemos a construí-lo.

Por isso, presidente, deixamos o governo - e tenho certeza que falo em nome de cada um dos ministros que estão aqui hoje que saem do governo - renovando nossos compromissos com as bandeiras que abraçamos. E com o juramento que fizemos de cada vez mais lutar e melhorar a vida do nosso povo. Essa tarefa, presidente, ficou mais fácil depois dos caminhos abertos pelo governo, traçados sob a sua liderança.

Nós nos despedimos, mas não somos aqueles que estão dizendo adeus, somos aqueles que estamos dizendo até breve. Nós não vamos nos dispersar. Nós, cada um dos ministros aqui presentes, temos um legado a defender, onde quer que estejamos, exercendo a militância que tivermos que exercer. Sob a sua inspiração, presidente, quem fez tanto está pronto para fazer muito mais e melhor. Estamos simplesmente dizendo até breve. Hoje sabemos que o Brasil é um país pronto para dar um novo passo de prosperidade, de desenvolvimento econômico e social, trilhando rotas já abertas, explorando novas riquezas, como o pré-sal. Sempre buscando gerar milhões de novos empregos.

No seu governo criamos uma base sólida. Com ela, nós podemos erradicar a miséria e nos tornar a 5ª economia do mundo dentro de alguns anos. É mais do que a minha geração podia sonhar. Não que a minha geração não sonhasse alto, mas é mais do que ela podia sonhar olhando para as possibilidades reais sob as quais nós vivemos.

Mais uma vez eu repito, presidente, o senhor nos deu, pela primeira vez, aquele gosto de vitória, não da vitória fácil, mas da vitória que se tem só depois de muito suor, muito esforço e muita dificuldade. É a crença também no diálogo que nós aprendemos. O senhor sempre dialoga. É a crença no acordo. É a crença na democracia.

Como o senhor sempre disse, e sempre eu gostei muito dessa síntese que o senhor faz, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes. É por tudo isso que nós podemos dizer em alto e bom som: nós nos orgulhamos de ter participado do seu governo. Eu falo por todos os ministros, os que saem e os que estão entrando e os que estão ficando.

Não importa agora perguntar porque alguns não têm orgulho dos governos de que participaram. Eles devem ter seus motivos. Mas nós podemos sempre saber que temos patrimônio, nós fizemos parte da era Lula. Vamos carregar essa história e contá-la para os nossos netos. Vamos carregar essa história e nos orgulhar disso em nossa biografia.

Querido presidente, o senhor também é uma pessoa alegre, afetiva, com senso de humor, que mostra que acima de tudo a gente pode enfrentar os revezes, as dificuldades. Na hora que a coisa endurece, como dizem os jovens, o bicho pega. Mas, nós temos que ter coragem e alegria de enfrentar a vida, a política e achar sempre as soluções. Eu tive o privilégio de conviver com o senhor, de privar dos momentos duros e dos momentos de vitórias e conquistas. Ser honrada por sua confiança. E quero dizer que eu como os outros ministros saímos maiores e melhores do que entramos.

Nós participamos da mudança do Brasil, mas nós também mudamos e é por isso que afirmo: cada um de nós sai uma pessoa melhor do que entrou. Isso, presidente, em qualquer experiência de vida é inestimável. É por isso que eu disse que a gente tem uma tristeza alegre, ou uma alegria triste, porque saímos felizes e revigorados. Pessoas melhores são necessariamente pessoas felizes. O Brasil para nós deixou de ser aquele país em que o futuro nunca chegava. É o futuro que chegou e nós chegamos junto. Isso não tem preço, presidente. É isso que sempre vai fazer de nós orgulhosos dessa experiência. Vai fazer de cada um de nós aqueles que sabem, também, que agora trata-se de ampliar esse futuro que chegou no presente.

Para finalizar, presidente, eu gostaria de agradecer também a todos aqueles que nos ajudaram a realizar essa travessia e que eu vejo aqui presentes. A base aliada, os movimentos sociais, os empresários, os trabalhadores que acreditaram que era possível construir o novo Brasil. Em meu nome e em nome de todos os ministros que participaram e participam desse processo, só tenho a dizer: obrigado, presidente Lula, pela oportunidade de nos fazer parceiros do maior projeto de transformação econômica e social que esse país viu nas últimas décadas. Obrigado também por permitir esse encontro com o povo brasileiro, que fez o Brasil mais próximo do seu povo. Por provar aquilo que sempre acreditamos, que o nosso povo é um povo extraordinário que só precisava de apoio, oportunidade e atenção para mostrar do que é capaz, para mostrar a sua capacidade, a sua inventividade, a sua criatividade, o seu empreendedorismo. Este é o principal sentimento que nós levamos conosco, o de ter lutado ao lado de um grande líder, em favor de um grande povo. Obrigado, presidente.

Eu queria dizer para o senhor que nós hoje estamos num dia muito especial para cada um de nós. Talvez, ao longo das nossas vidas, um momento decisivo. E tenho certeza que hoje nós aqui presentes, nossas famílias, nossos filhos, os netos e os amigos estão orgulhosos do que fizemos. Por isso, eu cumprimento aqueles ministros que entram. Desejo a eles toda a sorte do mundo, porque é preciso ter sorte, o senhor sempre diz. Ninguém vai querer ministro pé-frio também. Mas eu tenho certeza que espera vocês também, trabalho em dobro, como disse o presidente no dia do lançamento do PAC 2.

Eu agradeço a todos vocês, agradeço aos nossos companheiros ministros com quem nós convivemos. Em nome de cada um agradeço os representantes das equipes dos ministros, os representantes das empresas estatais, como a Petrobras. Agradeço a todos por esse trabalho de equipe que é a marca do governo do presidente Lula.

Obrigada.
Dilma Rousseff
31/03/10

Nossa homenagem a Che Guevarra

Datafolha aponta crescimento de Serra

Sempre pairam dúvidas sobre as pesquisas eleitorais. Muitas dizem que há manipulações as mais variadas para beneficiar este ou aquele candidato. Não sei. Claro que não vale concordar com o resultado da pesquisa quando ela corrobora a sua vontade político e discordar quando não. Mas o fato é que o levantamento do DataFolha publicado hoje deixa muita margem para questionamento.

Isso porque não há nenhum fato político novo que explique a reversão de uma tendência que já vinha se expressando na aferição de vários institutos nos últimos meses. Qual seja: o crescimento de Dilma e o recuo de Serra.

Tá certo que algo do crescimento de Serra pode refletir o puxão de orelha que a mídia hegemônica deu nos tucanos depois do anúncio da pesquisa de fevereiro, que mostrava Dilma encostando em José Serra. Editorial do Estadão publicado em 06 de março não poderia ter sido mais enfático ao dizer que, ou Serra saia da penumbra e assumia de vez a candidatura ou deveria se aposentar da política.

Obediente, Serra passou a assumir mais sua candidatura, e na última semana apareceu na TV dizendo ter sido o responsável pela criação do seguro-desemprego e muito mais. Uma campanha lavada que levou a Justiça Eleitoral a tirar o comercial tucano do ar.

O Datafolha ouviu, entre os dias 25 e 26 de março, 4.158 pessoas. Destas, 36% disseram ter a intenção de votar em José Serra, enquanto 27% indicaram o voto em Dilma Rousseff. Ciro Gomes, do PSB, aparece com 11%. Na pesquisa de fevereiro, a diferença entre Serra e Dilma era de 4%.

Na aferição espontânea do voto para presidente, Dilma permanece na frente, com 12% e numa tendência de crescimento. Serra aparece atrás, com 8%.
Ai está outra incongruência. Serra sobe na estimulada e isso não se reflete na espontânea?

Claro que Serra ainda tem espaço para crescer. Mas me parece que a pesquisa do DataFolha está forçando um pouquinho a barra.

Renata Mielli

Pink Floyd - Wish You Were Here

quinta-feira, 1 de abril de 2010

“Bem aventurados os humildes de espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt.5.3)

O governo Cid e o cabo de guerra da política cearense.

A metáfora de que a conjuntura política cearense é um “cabo de guerra” serve para definir bem a minha opinião sobre a mesa. De um lado o povo, o Brasil que emerge com a chegada do PT e aliados ao governo (não ao poder, pelo menos em parcela dele), os movimentos sociais, a inversão de prioridades enfim um projeto socializante de poder. Do outro lado FHC, Tasso, Serra, Malan, Aécio, o monopólio das comunicações, a concentração de renda, saber e poder.
No ceará iniciamos essa transição com muita luta e resistência ao período neoliberal que durou quase duas décadas, com privatização da Coelce, BEC, desmonte do serviço público, demissão de servidores, concentração de renda e desenvolvimento tímido e concentrador na Região metropolitana de Fortaleza. O governo Cid simboliza essa transição para o Ceará alinhado com o projeto nacional liderado por Lula, com a ação efetiva do Estado para suprir e atuar fortemente na superação das desigualdades. É inegável que essa transição está em curso. Ela tem como marco inicial a vitória de Luizziane em 2004 para prefeitura de Fortaleza. Com essa as elites não contavam. E o melhor diferente de 1985, o projeto se consolida com a reeleição a petista que aglutinou uma importante força aliada da base do governo Lula que aprofunda cada vez mais a derrota da direita cearense em especial dos "novos donos do poder no Ceará", cuja maior expressão é o senador tucano neoliberal Tasso Jereissati.
O ritmo, os símbolos e sujeitos que caracterizam (inclusive na fala política de suas principais lideranças) esse processo de superação da “Era Tasso” é verdade ainda precisam de melhor demarcação e clarificação diferenciadora dos projetos. O povo clama por essa clareza e às vezes é implacável com uma nitidez pouco demarcadora, sobretudo na “fala política” de que lado ou quais os objetivos que um projeto quer alcançar. Na forma como se dá e pelos sujeitos essas diferenças se evidenciaram mais na medida em que a luta entre os dois projetos que acontece cotidianamente em todos os espaços da sociedade, na base, nos embates feitos pelo povo, no enfrentamento com as elites e sua lógica de dominar, alienar e se perpetuar no poder se torne mais frenético forçado a cada elemento desse rico e complexo processo definir o seu lado, tomar partido. Isso é inevitável.
Essa ruptura por seus elementos, simbólicos e principais atores não é algo simples, mas é necessária. É louvável o governador Cid demonstrar essa opção e ter feito a aliança que o elegeu preferencialmente com o PT. Portanto o PSDB foi derrotado, deveria está na oposição. Não está, tenta ainda ser o que não é na realidade. São os momentos finais de uma equação que não se fecha e fruto também da deformação absurda da nossa representação política que cria esses fenômenos. Tasso vem sendo derrotado paulatinamente, só não enxerga quem não quer. Mas os laços ou o laço que ainda liga esse velho período com o novo exigido pelo povo são chamados a se posicionarem de forma mais objetiva que antes sobre pena de que a história arraste em suas impiedosas águas junto com os entulhos do passado forças potencias construtores de outro modelo. O que por vacilo ou relações limites de classe (em não posicionarem em momentos como esse) significaram o apego ao passado.
Alguns ainda tentam reavivar o que o povo já supera no embate social político e ideológico vigoroso em curso no país. Poderíamos chamar de o "fiel" do “cabo de guerra” (que divide a corda ao meio), ainda em tetativa vã de unificar dois lados opostos inexoravelmente pelas suas origens, natureza e programas. O divisor das forças óbvio, não permanecerá dessa mediação por muito tempo. Ou opta por um dos lados ou será pela força de um deles, nesta momento da nossa história tem prevalecido à força do povo e não das elites.
No evento de posse de Luizianne na presidência do PT ficou evidente que o time de um novo país e que no governo Cid puxa a corda para o lado do povo (e sinceramente acho que assim também pensa o governador) cabo veio bem mais para esquerda, para o campo progressista. Deve prevalecer à força do povo, da base aliada do governo Lula. No palanque daquela noite no PT, ficou claro a necessidade de paciência para acertarmos os ponteiros da nossa unidade no plano nacional. Também ficou evidente e necessária a presença de outro potencial candidato ao senado (dois fortes candidatos da base aliada do governo Lula) nessa unidade, torna muito forte a chapa do lado “esquerdo da corda” e puxa definitivamente para a esquerda, pondo a possibilidade concreta de estabelecermos o ocaso do período neoliberal em terras patativenses derrotando em sua tentativa de reeleição o seu símbolo maior o senador neoliberal, apoiador de FHC e implacável oposicionista ao governo Lula Tasso Jereissati.
Portanto uma aliança desse campo e uma chapa que seja ocupada por essas forças tem amplas chances (não subestimemos os resquícios neoliberais) de impor uma derrota, se não definitiva, significativa em um modelo que legou ao nosso estado, concentração de renda, desigualdade e avanços parcos diante da divida social enorme que temos como milhões de irmãos cearenses que ainda sofrem com a lógica que herdamos e que estamos dando um salto para superá-la seja por conta do coronelismo dos sertões ou dos novos ricos aculturados e anti-povo que fizeram e fazem da miséria do povo o alimento das suas riquezas e a sustentação da sua opulência, arrogância e autoritarismo.

Antonio Carlos de Freitas Souza
Vice-presidente do PT-Ceará

Momento histórico. Uma resposta da liberdade diante do autoritarismo.

Vai Passar. Graças a Deus e a luta do povo passou.

Vai passar

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque e Francis Hime
Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar

Ditadura nunca mais, nossa homenagem a todos e todas que deram suas vidas para estarmos aqui hoje. Viva a Democracia.

Ao se despedir, Dilma manda recado à oposição e diz "até breve"







A ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à presidência da República, criticou nesta quarta-feira aqueles que ela classificou como "os viúvos do Brasil que crescia pouco". Segundo ela, essas pessoas fingem ignorar que as mudanças no Brasil são substanciais. Dilma ainda aproveitou o discurso de despedida, no Palácio do Itamaraty, para enaltecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dizer um "até breve".

"Elas têm medo. Não sabem o que oferecer ao povo, que hoje é orgulhoso, tem certeza que sua vida mudou e não aceita mais migalhas, parcelas e projetos inacabados", disse a ministra, durante evento de transmissão de cargos dos ministros que disputarão as eleições no fim do ano. Dilma acrescentou que, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o povo não é coadjuvante. "É o centro das nossas atenções (...) O governo do senhor é um momento importante, de ápice, de vitória", afirmou.

"Talvez o mais longo momento de vitória de todos esses que lutaram experimentaram em sua vida." Ela citou as lutas contra a ditadura e por redemocratização, direitos, igualdade, justiça e liberdade. "A geração que me sucedeu conseguiu realizar seus sonhos."

Dilma discursou durante a posse de dez novos ministros que vão compor o quadro do governo até o final do seu segundo mandato. Dos dez, sete deixam as secretarias executivas que ocupavam para preencher as vagas deixadas pelos ministros candidatos. (Leia mais aqui)

"Líder popular"

Ainda falando diretamente a Lula, Dilma disse que ao seu lado os ministros que hoje deixam o cargo participaram de um processo de mudança profunda e importante. "Tivemos o líder mais popular e talvez o mais brasileiro de todos os líderes." Dilma começou seu discurso citando nominalmente, um a um, os ministros que tomaram posse hoje e também enumerou os que permanecerão em seus cargos. "Tenho certeza de que todos eles vão cumprir a missão pela frente tão bem ou melhor do que fizemos", afirmou.

Com a voz embargada, Dilma disse que fez esforço para falar de improviso. "Mas se eu falar de improviso vão acontecer duas coisas: uma é eu esquecer alguma coisa importante e a outra é chorar. Pode ser que eu esqueça e chore do mesmo jeito, mas tenho um roteiro para me segurar."

"Até breve"

Dilma disse ainda que este momento de transmissão de cargo pode ser comparado ao que alguns poetas descrevem como "uma espécie de alegria melancólica ou triste". "Alegria porque saímos de um governo dos que mais fizeram pelo País e de tristeza porque abandonamos um trabalho de sete anos e meio", afirmou. "Essa estranha alegria triste inebria a alma da gente, pois o senhor (Lula) nos deu o privilégio de participar de um dos momentos mais decisivos da história do nosso País."

No final, Dilma aproveitou o discurso de despedida para afirmar que em breve estará de volta à administração federal. "Não somos aqueles que estão dizendo adeus. Somos aqueles que estão dizendo até breve", disse. "Essa tarefa ficou mais fácil pelos caminhos abertos pelo governo e traçados pela sua liderança", disse ela, dirigindo-se a Lula.

Voo solo

Em entrevista coletiva após a cerimônia, ao ser questionada se ela estava preparada para enfrentar um voo solo e não ter do lado a presença constante do presidente Lula, Dilma disse que dificilmente um projeto de governo é um voo solo: "Eu não pretendo me desvencilhar do governo do presidente Lula. Participar dele, para mim, foi um momento muito importante da minha biografia".

Segundo ela, o seu voo solo, daqui para a frente, será com as pessoas que já vem trabalhando no projeto de governo do presidente Lula.

Dilma disse que a experiência que teve no governo lhe dá forças para enfrentar novos desafios. "Tudo o que eu passei no governo me dá muita força interior para enfrentar o que vem por aí', afirmou.

Ela disse que, no embate com a oposição, não vai baixar o nível e usar instrumentos que não honram a transição democrática. "Por isso eu acho que não é que ele (embate) tenha que ser duro. Ele tem que ser firme e transparente", disse Dilma, reforçando que o importante é deixar o mais claro possível os projetos que estão em disputa, "para o povo poder decidir".

Dilma reiterou que se sente preparada para disputa presidencial, mesmo sendo sua primeira campanha política. "Fui preparada na vida para coisas muito mais duras do que disputar uma eleição. A minha vida não foi uma coisa muito fácil. Acho que a eleição até é um momento muito bom, porque é o momento de exercício da democracia", afirmou.

Segundo ela, na democracia as coisas são mais produtivas, mais generosas e menos opressivas. "Difícil mesmo era aguentar a ditadura", disse.


Fausto Nilo. Nessa maravilhosa celebração da vida.