Uma lenda viva*
Não podemos chamar a chegada de nenhum ser humano aos cem anos meramente de aniversário. É reduzir demais essa magnífica vitória alcançada por poucos sobre o impiedoso tempo. Não é fácil chegar a essa marca. São cem anos, cem carnavais, cem janeiros. É obvio que as marcas indeléveis do passar dos anos aparecem inevitavelmente, às vezes de forma muito dura. Na maioria das vezes, passamos a não enxergar mais tão bem, a audição a não funcionar como antes e o andar já não é tão lépido como em outros tempos.
Não podemos negar, no entanto que, se o feito por si só já é um grande acontecimento, imagine atingir essa magnânima marca em forma? Isso mesmo, em forma! Mesmo sem os olhos e ouvidos não terem a perfeição de antes, ouvir e enxergar como nunca, por se fazer isso com o coração. Falar com firmeza, porque a voz que vem da alma, marcada pela experiência de tão longeva caminhada dedicada ao trabalho e as paixões, a faz soar como um libelo de exaltação a vida.
Tudo isso agregado a uma lucidez de impressionar e a uma memória de fazer inveja a muita gente na flor da idade, fazem de um homem uma lenda e, o mais interessante: uma lenda viva, vivíssima.
Alguns feitos falam por si. A lenda da qual nos referimos dentre outras peripecias é só, e simplesmente, o fundador do mais simpático time do nosso futebol (ninguém de sã consciência é capaz de contrariar essa afirmação). Aqui, não vou negar, a paixão é comum. O Ferroviário é filho do seu Caracas, que com seus colegas operários ofereceram a humanidade não um time de futebol, mas uma oportunidade rara de sermos felizes em tempos tão cheios de desamor e violência. E não me refiro ao mero e aqui menos importante ganhar ou perder. Aliás, já faz tempo que o Ferrim (ou Ferrão) não ganha nada mesmo. Portanto, não entremos nessa seara. Estamos falando é de paixão!
Não bastando a proeza, o nosso secular cidadão foi também o primeiro treinador a ganhar um titulo estadual para o time da Estrada de Ferro. O Caracol (outra alcunha do centenário homenageado) também é o vereador vivo mais antigo de Fortaleza, fundador do Partido Socialista Brasileiro no Ceará, o mais velho aposentado da previdência do Estado, ex sub-prefeito de Parangaba, primeiro cronista esportivo do Ceará, esposo apaixonado por sua saudosa Anete (in memorian), grande amigo, pai, avô, bisavô, dedicado e carinhoso a todos que privam do seu convívio.
Por tudo dito até aqui, e por muito mais que não cabe neste artigo, rendo as mais profundas homenagens em seu centenário a Valdemar Cabral Caracas: homem comum que transcendeu o anonimato. Não pelo forjado culto individualista e mercadológico a falsas “lendas” e "mitos" criados a cada instante pela sociedade do consumo; mas por trazer na alma a simplicidade, a coerência e a honestidade tão características da nossa gente, tão bem simbolizadas pela sua história que, para nossa alegria, atravessa um século.
Antonio Carlos de Freitas Souza - Professor, radialista, cronista esportivo (membro da Abrace e Apcdec)
*Publicado no jornal O Povo em novembro de 2007 por ocasião dos 100 anos de Valdemar Caracas naquele ano. Resgatamos o texto pela sua atualidade. Onde se ler 100 favor leia-se 103. Vida longa para nosso querido Caracol.
Não podemos negar, no entanto que, se o feito por si só já é um grande acontecimento, imagine atingir essa magnânima marca em forma? Isso mesmo, em forma! Mesmo sem os olhos e ouvidos não terem a perfeição de antes, ouvir e enxergar como nunca, por se fazer isso com o coração. Falar com firmeza, porque a voz que vem da alma, marcada pela experiência de tão longeva caminhada dedicada ao trabalho e as paixões, a faz soar como um libelo de exaltação a vida.
Tudo isso agregado a uma lucidez de impressionar e a uma memória de fazer inveja a muita gente na flor da idade, fazem de um homem uma lenda e, o mais interessante: uma lenda viva, vivíssima.
Alguns feitos falam por si. A lenda da qual nos referimos dentre outras peripecias é só, e simplesmente, o fundador do mais simpático time do nosso futebol (ninguém de sã consciência é capaz de contrariar essa afirmação). Aqui, não vou negar, a paixão é comum. O Ferroviário é filho do seu Caracas, que com seus colegas operários ofereceram a humanidade não um time de futebol, mas uma oportunidade rara de sermos felizes em tempos tão cheios de desamor e violência. E não me refiro ao mero e aqui menos importante ganhar ou perder. Aliás, já faz tempo que o Ferrim (ou Ferrão) não ganha nada mesmo. Portanto, não entremos nessa seara. Estamos falando é de paixão!
Não bastando a proeza, o nosso secular cidadão foi também o primeiro treinador a ganhar um titulo estadual para o time da Estrada de Ferro. O Caracol (outra alcunha do centenário homenageado) também é o vereador vivo mais antigo de Fortaleza, fundador do Partido Socialista Brasileiro no Ceará, o mais velho aposentado da previdência do Estado, ex sub-prefeito de Parangaba, primeiro cronista esportivo do Ceará, esposo apaixonado por sua saudosa Anete (in memorian), grande amigo, pai, avô, bisavô, dedicado e carinhoso a todos que privam do seu convívio.
Por tudo dito até aqui, e por muito mais que não cabe neste artigo, rendo as mais profundas homenagens em seu centenário a Valdemar Cabral Caracas: homem comum que transcendeu o anonimato. Não pelo forjado culto individualista e mercadológico a falsas “lendas” e "mitos" criados a cada instante pela sociedade do consumo; mas por trazer na alma a simplicidade, a coerência e a honestidade tão características da nossa gente, tão bem simbolizadas pela sua história que, para nossa alegria, atravessa um século.
Antonio Carlos de Freitas Souza - Professor, radialista, cronista esportivo (membro da Abrace e Apcdec)
*Publicado no jornal O Povo em novembro de 2007 por ocasião dos 100 anos de Valdemar Caracas naquele ano. Resgatamos o texto pela sua atualidade. Onde se ler 100 favor leia-se 103. Vida longa para nosso querido Caracol.
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