sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dilma exalta capacidade produtiva do país em lançamento de navio

A pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, disse nesta sexta-feira (7), ao chegar ao Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca (PE), que o Brasil dá um passo fundamental para o aumento de sua capacidade produtiva ao lançar o primeiro navio petroleiro de grande porte, depois de décadas de estagnação da indústria naval.
Olhando o petroleiro João Cândido, Dilma ressaltou o esforço dos trabalhadores. “Bonito é isso ali, ó. Cheio de trabalho”, comentou acenando para os trabalhadores que estavam a bordo do navio pouco antes do lançamento.
“Era isso que diziam que no Brasil não se podia fazer. O Brasil dá um passo à frente hoje. Não podemos produzir apenas commodities [soja, minério de ferro], nós também produzimos navios como esse, desse tamanho”, afirmou.
O lançamento do navio petroleiro João Cândido representa o reinício de uma atividade industrial abandonada no país há décadas. Ele é o primeiro das 49 embarcações de grande porte que integram o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) a ser entregue.
Segundo o EAS, que abriu suas portas há cerca de três anos, o petroleiro tem capacidade para transportar até 1 milhão de barris de petróleo, o equivalente à quase a metade da produção diária brasileira. A empresa emprega cerca de 4 mil funcionários, a maior parte treinada em Pernambuco, e cerca de 1,3 mil trabalharam diretamente na construção do petroleiro.

Lula: o que fizemos no Brasil não pode mudar

Estrela do evento em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no Complexo Portuário de Suape e pediu que os empresários brasileiros invistam no País. "Não ter empresa que produza trilhos para a malha viária é uma vergonha", afirmou. No fim, ainda fez um apelo: "o que fizemos no Brasil não pode mudar. Se a gente deixar, o Brasil regride. Nós sabemos que fazer é dificil. Derrubar é fácil", diz.

Lula também desafiou qualquer político a mostrar, nos últimos 30 anos, um presidente que tenha colocado mais dinheiro em cada estado brasileiro do que ele. O presidente, que estava bem humorado, chegou a brincar com uma bandeira do Sport, pentacampeão do Campeonato Pernambucano, e também disse concordar com o ministro da saúde no quesito de que para cuidar da pressão, tem que fazer sexo. "Não fique se lamentando companheiro, vá a luta", brincou.
Durante a inauguração do navio, o presidente ficou em cima da plataforma ao lado de Dilma e do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos e acenou para os operários. Ele prometeu retornar no final do ano a Ipojuca se o Atlântico Sul inaugurar outro navio.
O navio, que tem o nome de João Cândido em homenagem ao Líder da Revolta da Chibata, é um dos 22 encomendados pela Transpetro ao Estaleiro Atlântico Sul.

Emprego para moradores locais

A economia local da Ipojuca se beneficiou muito da retomada da indústria naval no país, graças ao impulso dado pelo governo Lula. Daiana Marques da Silva, 22 anos, é um dos muitos exemplos que podem ser colhidos no Estaleiro Atlântico Sul (EAS).
Antes do estaleiro, “eu só estudava e fazia alguns bicos”, contou a ex-soldadora e hoje auxiliar de produção, que mora em Ipojuca. Segundo ela, a cidade mudou depois da instalação do EAS. As pessoas passaram a ter mais perspectivas, avalia. “Só não trabalha aqui quem não procurar. Tem muita oportunidade”, salientou.
Daiana conta que no começo os familiares tinham dúvidas sobre o trabalho dela, mas depois com o boom que o estaleiro provocou na cidade, tudo passou ser natural. “Eles ficavam curiosos, queriam saber se era muito quente, se era perigoso trabalhar na solda”, lembrou. Ela entrou na “turma zero” do EAS. “Fui uma das primeiras a ser contratada. Fiquei dois anos como soldadora e agora estou como auxiliar de produção”, revelou.
Ela também levou o marido para trabalhar no estaleiro. “Antes, ele trabalhava com turismo, com recreação de turistas. O problema é que turismo não dá dinheiro o ano inteiro. É só por uns meses. Então, ele preferiu trocar”, explicou.
Segundo dados do EAS, mais de 90% dos trabalhadores na construção do EAS e dos navios vêm dos cinco municípios no entorno do Complexo Portuário de Suape. Antes de entrar no estaleiro, a maioria destes trabalhadores ganhava a vida como cortador-de-cana, pescador, nas atividades turísticas ou doméstica.
Inicialmente, eles passaram por um reforço de ensino básico, com duração de três meses, em um antigo matadouro reformado e transformado em escola, hoje denominada “Nascedouro de Talentos”. Na segunda fase, a força de trabalho foi capacitada pelo Senai, recebendo base teórica e treinamento prático.
Na terceira fase, de cerca de três meses, o Centro de Treinamento construído pelo EAS em Suape ofereceu uma qualificação final direcionada para as atividades a serem exercidas por cada um no estaleiro (soldador, caldeireiro, mecânico, montador, pintor).

Resgate histórico e retorno ao Brasil

O lançamento do petroleiro João Cândido resgata a história de bravos brasileiros que lutaram contra a discriminação racial e a violência na Marinha de Guerra no início do século passado durante a Revolta da Chibata. Também revela a luta diária de outros brasileiros por uma vida melhor.
O ressurgimento da indústria naval no país tem ajudado esses brasileiros a viver mais perto de suas famílias, como no caso de dekasseguis (brasileiros descendentes de japoneses ) que saíram e agora retornam ao Brasil por conta desse novo ciclo econômico.
Além de recrutar e capacitar mão-de-obra em Ipojuca, a administração do estaleiro decidiu importar mão-de-obra brasileira que trabalhava nos estaleiros japoneses.
A história da soldadora Márcia Mitiko, 29 anos, ilustra a volta dos dekasseguis que são trabalhadores altamente qualificados na indústria. O EAS decidiu recrutar 200 deles no final do ano passado. Até agora, cerca de 90 já fizeram o caminho de volta e felizes da vida.
“Eu me casei e mudei para o Japão com meu marido com o objetivo de ficar três anos lá. Acabamos ficando nove”, conta Márcia, que levou sua filha Bruna de quatro meses junto. “Eu fiquei sabendo que eles estavam recrutando pessoas para trabalhar em estaleiros no Brasil. Foram lá, me entrevistaram e resolvi voltar.”
Junto com ela veio o marido, que também trabalha no estaleiro. “No nosso estaleiro lá em Hiroshima, ainda não havia tido problema por causa da crise [financeira mundial], mas eu conhecia vários brasileiros que tinham perdido o emprego por conta disso”, contou. Segundo ela, a filha já está adaptada ao Brasil e só fala português agora.

Enquanto ela contava sua história, a amiga e também soldadora Manuela Barão disse que também voltou do Japão por causa da oferta de emprego do EAS. “Eu procurei na internet informações sobre estaleiros no Brasil, porque eu queria voltar. Já estava há seis anos lá. Daí mandei um currículo para cá, mas eles não me responderam. Depois de uns meses soube que haveria uma seleção e fui participar e decidi voltar”, explicou Manuela, que também trouxe o marido brasileiro que conheceu no Japão para Pernambuco e para o EAS.
Márcia está orgulhosa de ter participado desse navio cheio de história. “Eu estou feliz, né. É o primeiro navio a ser construído no Brasil desde a retomada [da indústria naval]. É o primeiro estaleiro a construir um petroleiro tão grande nessa época. Quando eu ficar velhinha, vou contar para os meus netos que participei da construção desse navio”, disse.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Os(as) Comunistas estão de volta.



















Militantes protestam na Acrópole contra plano de austeridade

Cerca de 200 militantes comunistas ocuparam na manhã desta terça-feira a Acrópole de Atenas para protestar contra o plano de austeridade imposto à Grécia. "Povos da Europa, rebelai-vos", afirmava uma faixa escrita em grego e inglês e exibida pelos manifestantes, que também gritaram frases de protesto.

A polícia não soube explicar como os comunistas entraram no local, que fica fechado ao público durante a manhã e, em tese, tem uma rigorosa vigilância.

Para salvar à Grécia da falência, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os países da zona do euro anunciaram no domingo o desembolso de 110 bilhões de euros nos próximos três anos.

Em troca, o governo de Papandreou deverá implementar um duro programa de austeridade, que inclui a redução de salários dos funcionários e o aumento de vários impostos.

www.terra.com.br

Marco Aurélio Garcia: programa de governo Dilma deve mobilizar sociedade

Na abertura do Encontro Nacional Extraordinário de Setoriais do PT, na Câmara Municipal de São Paulo, sexta-feira à noite (30/4), o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, iniciou parte das discussões internas sobre o programa de governo da pré-candidata Dilma Rousseff.
Coordenador do documento, Garcia expôs aos petistas um panorama do governo Lula e ressaltou a necessidade de mobilização social em torno da campanha petista. "Vamos ter que afinar a viola".

- É um conjunto de diretrizes (o programa "A grande transformação). Não é a imposição de um partido. Deixamos claro que seria um projeto oferecido aos partidos e à sociedade brasileira. Teremos que coordenar as elaborações que estão sendo feitas e debater com os outros partidos. Alguns têm pouca experiência, outros têm mais - explicou Garcia.

Mais cedo, Dilma havia feito a palestra inaugural do encontro de 15 setoriais do PT, que devem formular pontos de seu programa. Na sessão reservada à militância, Garcia traçou alguns dos procedimentos para os debates - primeira exigência: menos prolixidade.

- Os documentos precisam ser curtos. Se for muito longo, nem nós vamos ler... Se você tem mais de cinco prioridades, você não tem nenhuma. Você deve ter cinco, seis, sete, e ponto - fincou.

Nesta segunda, uma reunião em Brasília discutirá o método dos trabalhos e as comissões. Na quarta, será traçada uma plataforma para interagir na internet, por meio de um blog ou site. Garcia quer integrar setores não-partidários à discussão do projeto presidencial de Dilma.

- Temos que trabalhar o conjunto da sociedade... O problema do programa de governo é de elaboração, mas também de mobilização... A eleição é um momento privilegiado de mobilização da sociedade.

O assessor especial da presidência avaliou que, nos primeiros quatro anos de governo, Lula conseguiu "acertar o quadro de caos social e econômico" e refutou as semelhanças com a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002): "Não há continuidade de política econômica".

- Nesses sete anos e quatro meses houve uma retomada de crescimento econômico. E essa retomada se fez com distribuição de renda, equilíbrio macroeconômico e redução de vulnerabilidade externa - declarou, logo na abertura, ressaltando que outros países cresceram, mas enfrentam críticas por não ter um regime democrático.

Num momento de análise das forças políticas na campanha de 2010, Marco Aurélio Garcia ironizou a aproximação do pré-candidato José Serra (PSDB) com o lulismo.

- O pós-Lula é a Dilma, vamos deixar isso claro! Aqueles que fizeram oposição durante sete anos agora querem esconder. Todo mundo é lulista. Serra é o maior lulista que tem... Quem tem condições de dar a continuidade são aqueles que estiveram comprometidos nesse processo - defendeu o professor, citando a ex-ministra da Casa Civil como legítima sucessora.

Durante o mês de maio, os debates internos serão acelerados, para que o esboço inicial do programa seja debatido com os partidos aliados (PMDB, PC do B, PR, PDT e PRB). "É sistematizar e transformar em temas de grandes debates da sociedade", ressaltou Garcia. Para ele, "o Brasil tem uma estrutura complicada, federativa, com algumas questões que não sabemos de quem é a responsabilidade" - e exemplificou com os setores da segurança, educação e saúde.

Fonte: Terra Magazine

sábado, 1 de maio de 2010

Íntegra do pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os brasileiros em homenagem ao Dia do Trabalhador.

Confira a íntegra do pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os brasileiros em homenagem ao Dia do Trabalhador:

“Companheiras Trabalhadoras e Companheiros Trabalhadores,

Esta é a última vez que falo com vocês, como presidente, para comemorar o nosso dia, o Dia do Trabalhador. E falo como sempre falei nos últimos sete anos: olhando nos olhos de cada um de vocês; e trazendo, mais uma vez, boas notícias.

No dia 1o de Maio, graças a Deus, temos comemorado, ano após ano do meu governo, o aumento do emprego, da massa salarial, do salário mínimo, do crédito e do poder de compra do trabalhador. Temos comemorado também o crescimento vigoroso da economia e a clara retomada dos investimentos.

E temos celebrado o fato de que o Brasil construiu uma democracia sólida e firmou um modelo de desenvolvimento baseado no crescimento sustentado, na distribuição de renda e na diminuição da desigualdade entre as pessoas e entre as regiões. Hoje temos orgulho do nosso país e somos respeitados pelo mundo.

Companheiras e companheiros,

Daqui a oito meses, deixarei a Presidência da República, cargo para o qual fui eleito duas vezes, pelo voto de milhões de brasileiros. Olhando para o calendário, meu período de governo está chegando ao fim.

Mas algo me diz que este modelo de governo está apenas começando. Algo me diz, fortemente, em meu coração, que este modelo vai prosperar. Sabe por quê? Porque este modelo não me pertence: pertence a vocês, pertence ao povo brasileiro. Que saberá defendê-lo e aprofundá-lo, com trabalho honesto e decisões corretas.

Nesses últimos anos, o povo aprendeu a confiar em si mesmo. Aprendeu a não dar ouvidos aos derrotistas e à turma do contra; aos que diziam que o Brasil tinha de se contentar com um crescimento medíocre; aos que pregavam o conformismo diante da exclusão social e da injustiça.

A experiência do meu governo mostrou o contrário. O Brasil tem todas as condições de crescer a taxas robustas, na casa dos 5% ao ano, e assim, converter-se numa das maiores economias do mundo.

Basta manter um rumo claro e seguro, não perdendo de vista nunca que a inclusão social é o grande motor do desenvolvimento econômico. Só reduzindo a pobreza, continuando a retirar da miséria milhões de brasileiros, consolidaremos um amplo mercado interno de massas, capaz de estimular e sustentar um longo período de crescimento econômico.

Porque não pode existir um país rico com um povo pobre. Não pode haver um país forte com um povo miserável. Só é rico o país que descobre que o povo é sua maior riqueza. Só é forte a nação que se constrói mobilizando a energia, os sonhos e as esperanças de sua gente. Este é o caminho que o Brasil aprendeu a trilhar nesses últimos anos. Estou seguro de que nada ou ninguém será capaz de nos afastar desse rumo.

Minhas amigas e meus amigos,

Hoje, estamos vivendo uma era de firme retomada do crescimento econômico. Posso dizer com orgulho que o Brasil deixou para trás as décadas de estagnação. Nem a crise financeira internacional, a mais grave das últimas décadas, foi capaz de nos deter. Já retomamos com vigor o caminho do desenvolvimento econômico.

Estamos vivendo também uma era de retomada do emprego e do trabalho. A taxa de desocupação caiu fortemente nos últimos anos, de 12,3% em 2003 para 7,2% hoje. Em sete anos, o Brasil gerou mais de 12 milhões de empregos com carteira assinada. E, neste primeiro trimestre, mais 650 mil novos postos de trabalho formais, um recorde absoluto. Já se prevê que o país vai gerar mais de dois milhões de empregos este ano, o que seria a melhor marca da nossa história.

O Brasil não apenas tem criado mais empregos. Tem também criado empregos melhores. Em fevereiro deste ano, 50,7% dos trabalhadores tinham carteira assinada. Um salto e tanto em relação a 2003, quando essa percentagem era de 43,5%.

Os salários também aumentaram no período. O salário mínimo, graças a um aumento real de 74% ao longo do governo, é o mais alto dos últimos 40 anos. A massa salarial como um todo cresceu 42% no mesmo período, em termos reais.

Também estamos vivendo uma era de fortíssima inclusão social, graças ao Bolsa Família e a muitos outros programas do governo. Nos últimos sete anos, 31 milhões de brasileiros entraram na classe média e 24 milhões saíram da linha da miséria. Deixamos de ser um país majoritariamente pobre. Hoje as classes A, B e C formam quase 70% da população.

Tudo isso está fazendo a roda da economia girar de forma sustentada. Como há mais gente consumindo, o comércio vende mais e aí tem de encomendar mais da indústria, que tem de investir mais e contratar mais trabalhadores, num círculo virtuoso, que impulsiona o país e seu povo para frente.

Minhas amigas e meus amigos,

Quando um país, como o Brasil, realiza algumas conquistas sempre esperadas, abrem-se, imediatamente, novos desafios para o dia de amanhã. Mais que nunca o Brasil está preparado para o futuro. Mas é preciso que a gente continue tomando as decisões certas, nas horas certas.


É isso que temos feito nos nossos projetos de longo e médio prazo, como o PAC-2 e o Pré-Sal. Logo, logo começaremos a explorar as gigantescas reservas de petróleo descobertas pela Petrobrás no pré-sal.

Seus recursos não devem ser gastos em bobagens ou no custeio de despesas correntes. Por lei, serão aplicados, obrigatoriamente, em educação, saúde, ciência e tecnologia, cultura e meio ambiente. Temos em mãos um passaporte para o futuro, e não podemos desperdiçar essa chance.

Temos pela frente grandes oportunidades: a realização da Copa do Mundo e das Olímpiadas de 2016, gerando investimentos, emprego e renda. Estou seguro de que o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, sua competência, criatividade e capacidade de trabalho.

O Brasil é um país sem limites para crescer. Não apenas porque tem grandes riquezas naturais. Mas principalmente porque tem um povo generoso, forte e criativo. Um povo maduro que sabe escolher, que trabalha duro e não desperdiça oportunidades. Um povo que soube trazer nosso país até aqui e que saberá continuar conduzindo nosso Brasil no rumo certo.

Muito obrigado.

Boa Noite.”

Construção na voz da imortal de Elis Regina.

Trecho do manifesto O direito à preguiça. Paul Lafargue

Um Dogma Desastroso

Sejamos preguiçosos em tudo,
exceto em amar e em beber, exceto
em sermos preguiçosos.
LESSING

Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho, levado até ao esgotamento das forças vitais do indivíduo e da sua progenitora. Em vez de reagir contra esta aberração mental, os padres, os economistas, os moralistas sacrossantificaram o trabalho. Homens cegos e limitados, quiseram ser mais sábios do que o seu Deus; homens fracos e desprezíveis, quiseram reabilitar aquilo que o seu Deus amaldiçoara. Eu, que não confesso ser cristão, economista e moralista, recuso admitir os seus juízos como os do seu Deus; recuso admitir os sermões da sua moral religiosa, econômica, livre-pensadora, face às terríveis consequências do trabalho na sociedade capitalista.

Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda a degenerescência intelectual, de toda a deformação orgânica. Comparem o puro-sangue das cavalariças de Rothschild, servido por uma criadagem de bímanos, com a pesada besta das quintas normandas que lavra a terra, carrega o estrume, que põe no celeiro a colheita dos cereais. Olhem para o nobre selvagem, que os missionários do comércio e os comerciantes da religião ainda não corromperam com o cristianismo, com a sífilis e o dogma do trabalho, e olhem em seguida para os nosso miseráveis criados de máquinas

Quando, na nossa Europa civilizada, se quer encontrar um traço de beleza nativa do homem, é preciso ir procurá-lo nas nações onde os preconceitos econômicos ainda não desenraizaram o ódio ao trabalho. A Espanha, que infelizmente degenera, ainda se pode gabar de possuir menos fábricas do que nas prisões e casernas; mas o artista regozija-se ao admirar o ousado Andaluz, moreno como as castanhas, direito e flexível como uma haste de aço; e o coração do homem sobressalta-se ao ouvir o mendigo, soberbamente envolvido na sua capa esburacada, chamar amigos aos duques de Ossuna. Para o espanhol, em cujo país o animal primitivo não está atrofiado, o trabalho é a pior das escravaturas (O provérbio espanhol diz: Descansar és salud). Os gregos da grande época também só tinham desprezo pelo trabalho: só aos escravos era permitido trabalhar, o homem livre só conhecia os exercícios físicos e os jogos da inteligência. Também era a época em que se caminhava e se respirava num povo de Aristóteles, de Fídias, de Aristófanes; era a época em que um punhado de bravos esmagava em Maratona as hordas da Ásia que Alexandre ia dentro em breve conquistar. Os filósofos da antiguidade ensinava o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos deuses:

O Meliboe, Deus nobis hoec otia fecit (Ó Melibeu, um Deus deu-nos esta ociosidade).

Cristo pregou a preguiça no sermão da montanha:

“Contemplai o crescimento dos lírios dos campos, eles não trabalham nem fiam e, todavia, digo-vos, Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu com maior brilho” (Evangelho segundo São Matheus, cap. VI).

Jeová, o deus barbudo e rebarbativo, deu aos seus adoradores o exemplo supremo da preguiça ideal; depois de seis dias de trabalho, repousou para a eternidade.

Em contrapartida, quais são as raças para quem o trabalho é uma necessidade orgânica? Os “Auvergnats”; os Escoceses, esses “Auvergnats” das ilhas britânicas; os Galegos, esses “Auvergnats” da Espanha; os Pomeranianos, esses “Auvergnats” da Alemanha; os Chineses, esses “Auvergnats” da Ásia. Na nossa sociedade, quais são as classes que amam o trabalho pelo trabalho? Os camponeses proprietários, os pequeno-burgueses, uns curvados sobre as suas terras, os outros retidos pelo hábito nas suas lojas, mexem-se como a toupeira na sua galeria subterrânea e nunca se endireitam para olhar com vagar para a natureza.

E, no entanto, o proletariado, a grande classe que engloba todos os produtores das nações civilizadas, a classe que, ao emancipar-se, emancipará a humanidade do trabalho servil e fará do animal humano um ser livre, o proletariado, traindo os seus instintos, esquecendo-se da sua missão histórica, deixou-se perverter pelo dogma do trabalho. Rude e terrível foi a sua punição. Todas as misérias individuais e sociais mereceram da sua paixão pelo trabalho.

Viva a classe trabalhadora. Viva o 1º de Maio.

Viva a classe trabalhadora. Viva o 1º de Maio.