quinta-feira, 26 de abril de 2012

13 anos do Canto da Iracema. Música de altíssima qualidade.


Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...
Vinicius de Moraes

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Minha modesta declaração de amor a Fortaleza.















Modesta declaração de amor a Fortaleza.

Parido pela segunda vez no Benfica
Ao canto lírico das tuas ruas libertarias
Inebriado na boemia das tuas noites
Liberto nos teus combativos, e ensolarados dias
Fortaleza que me levou ao mundo
Fortaleza que me manteve na província
Onde os verdes mares bravios banharam minha alma
Onde tuas bocas adocicaram minhas paixões
Onde teu povo me acolheu como filho
Onde uma de tuas filhas me alegra com a tolerância de dividir comigo a vida
Retribuindo em modesto gesto enorme carinho, perenizei em teu solo minha existência
Fortaleza mulher
Fortaleza guerreira
Fortaleza Bela
Por natureza
Por teu belíssimo povo
Fortaleza dos meus sonhos
Rebelde, impetuosa como tua juventude
Vanguardista e libertária como sua gente
Acolhedora e terna como tua velhice
Filho adotado, e como deve ser nunca fui por ti menos amado
Em singelas letras e em bárbaros brados
Declaro mais uma vez a ti o meu amor
É o que posso fazer diante tamanho amplexo materno
Mais aconchegante que nunca
Que me envolve agora
Fazendo os poros transpirarem sensibilidade
E o coração explodir de emoção
Divido com os milhões de sonhadores essa honra
Com os que por aqui passaram ou ficaram, sempre bem acolhidos, aprenderam com teu legado a lutaram e até darem sua vida pela liberdade
Nesse conjunto de sonhos coletivos sob intenso brilho tropical, sou apenas mais um
As pessoas comuns, sem posses ou benesses, títulos, becas ou togas, mas com garra, honestidade e generosidade que te fazem a Fortaleza mais livre do mundo, dedico essa emoção
Aos meus concidadãos fortalezenses, o que resta dizer?
Muitas coisas eu sei
No entanto o impiedoso tempo não me permite fazê-lo agora
E para não compor o poema sem fim, que por péssimas letras só a mim deve agradar
Resumo o que sinto dizendo
Amo-te Fortaleza

Antonio Carlos de Freitas Souza

Parabéns Fortaleza. 286 anos de rebeldia e beleza.



















Vila do Mar no Pirambu. Maior obra de urbanização da história da cidade.

Fortaleza Bela

"Com a beleza desse povo,
que não cansa de lutar
tá nascendo um tempo novo
só fizemos começar.
A Fortaleza é o nosso povo,
que sonha e faz agora o tempo novo,
não para nunca de sonhar"

Antonio Carlos de Freitas Souza

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Castro Alves. Bandido negro.
















Bandido negro


Corre, corre, sangue do cativo
Cai, cai, orvalho de sangue
Germina, cresce, colheita vingadora
A ti, segador a ti. Está madura.
Aguça tua fouce, aguça, aguça tua fouce.
(E. SUE - Canto dos filhos de Agar)


Trema a terra de susto aterrada...
Minha égua veloz, desgrenhada,
Negra, escura nas lapas voou.
Trema o céu ... ó ruína! ó desgraça!
Porque o negro bandido é quem passa,
Porque o negro bandido bradou:


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


Dorme o raio na negra tormenta...
Somos negros... o raio fermenta
Nesses peitos cobertos de horror.
Lança o grito da livre coorte,
Lança, ó vento, pampeiro de morte,
Este guante de ferro ao senhor.


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


Eia! ó raça que nunca te assombras!
Pra o guerreiro uma tenda de sombras
Arma a noite na vasta amplidão.
Sus! pulula dos quatro horizontes,
Sai da vasta cratera dos montes,
Donde salta o condor, o vulcão.


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


E o senhor que na festa descanta
Pare o braço que a taça alevanta,
Coroada de flores azuis.
E murmure, julgando-se em sonhos:
"Que demônios são estes medonhos,
Que lá passam famintos e nus?"


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


Somos nós, meu senhor, mas não tremas,
Nós quebramos as nossas algemas
Pra pedir-te as esposas ou mães.
Este é o filho do ancião que mataste.
Este - irmão da mulher que manchaste...
Oh! não tremas, senhor, são teus cães.


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


São teus cães, que têm frio e têm fome,
Que há dez séc'los a sede consome...
Quero um vasto banquete feroz...
Venha o manto que os ombros nos cubra.
Para vós fez-se a púrpura rubra,
Fez-se a manto de sangue pra nós.


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


Meus leões africanos, alerta!
Vela a noite... a campina é deserta.
Quando a lua esconder seu clarão
Seja o bramo da vida arrancado
No banquete da morte lançado
Junto ao corvo, seu lúgubre irmão.

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.


Trema o vale, o rochedo escarpado,
Trema o céu de trovões carregado,
Ao passar da rajada de heróis,
Que nas éguas fatais desgrenhadas
Vão brandindo essas brancas espadas,
Que se amolam nas campas de avós.


Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz